Sustentabilidade tem de fazer parte da estratégia para garantir perenidade, diz consultora Sonia Consiglio

A autora e especialista com atuação no Pacto Global e na B3 vê uma transformação de modelo, que precisa integrar aspectos ESG e econômico-financeiros Clóvis Malta

Sonia alerta para a necessidade de relacionar ESG à estratégia do negócio – Foto: Divulgação

A relação entre a agenda ESG e a reputação de empresas e líderes é direta, um caminho sem volta quando se trata de assegurar ativos estratégicos, sejam investimentos, talentos ou a preferência dos públicos. Por essa razão, é importante conhecer como esses temas estão sendo priorizados frente a questões econômicas que estão batendo na porta das organizações.

“O ESG continuará sendo uma pauta importante, mesmo que sofra mudança de rumo ou de velocidade”, afirma a jornalista e consultora Sonia Consiglio, autora do livro #vivipraver – A História e as Minhas Histórias da Sustentabilidade ao ESG, lançado em 2021.

Mais que uma entusiasta da adesão do mundo corporativo às causas da sustentabilidade, Sonia viveu por dentro a evolução do ESG na agenda corporativa, com atuação em grandes empresas, na Rede Brasil do Pacto Global e na B3. Na sua avaliação, é preciso conciliar, cada vez mais, o ESG com o business de forma realista. Entende também que está em curso uma transformação de modelo e que quem ignorar a mudança, corre risco de não conseguir operar no médio prazo.

“Sustentabilidade não é abraçar árvore, mas uma questão de business”, reforça Sonia, que respondeu a uma série de questões propostas pelo Reputation Feed. Confira a seguir um resumo dos principais pontos da entrevista.

ESG É PARA TODOS OS TAMANHOS DE NEGÓCIO

“O maior desafio para avançar na agenda sustentável é conhecimento. As lideranças precisam ser sensibilizadas e instruídas sobre a importância da agenda ESG, do valor que agrega ao envolver questões ambientais, sociais, de governança e econômico-financeiras. Sustentabilidade não é abraçar árvore. É uma questão de business, de sobrevivência do negócio, de estratégia, de mitigação de riscos, de geração de valor econômico.

Não pense que esta é uma agenda para grandes empresas. Comece de forma simples: coleta seletiva, consumo consciente de recursos. Vá caminhando, vendo engajamento de fornecedor, as práticas internas – ou seja, ponha o motor para rodar. A partir daí, é preciso o apoio de um especialista, uma orientação, mas esse é o momento em que se começa a avançar.”

Por que tem que fazer parte da estratégia? Justamente para que a empresa tenha perenidade.”

VIVEMOS UMA TRANSFORMAÇÃO DE MODELO

“A empresa não abre mão de lucro quando implanta uma agenda socioambiental. Já evoluímos bastante nesse ponto. O que a gente está vivendo é uma transformação de modelo, que precisa integrar todos esses aspectos. Então, por que tem que fazer parte da estratégia? Justamente para que a empresa tenha perenidade. Quem não olhar para as questões de mudanças climáticas, para as questões sociais, de igualdade, diversidade etc, corre risco de não conseguir operar no médio prazo. Cada vez mais, as pressões de todos os stakeholders são por uma consistente atuação na agenda ESG.”

“Sabemos dos altos e baixos das agendas nas empresas. Se esses eventos afetam o objetivo maior – tipo ‘acho que não vou lidar mais com essas questões’ –, aí você tem um problema. Mas não é o que está ocorrendo. Mesmo na adversidade, as empresas mantêm o foco em ESG.”

FOCO MANTIDO, MESMO NA ADVERSIDADE 

“Conflitos externos e ambientes inflacionários afetam as empresas como um todo. O impacto nas questões de sustentabilidade depende muito de como a empresa trabalha a agenda ESG. Se for estratégica, alinhada ao negócio, fazendo parte dos planos, do business, essa pauta vai ser afetada na mesma medida que os projetos de negócio. Se a empresa trabalha com sustentabilidade como um adendo, como uma área que tem projetos e esses projetos ainda não estão conectados com a estratégia da organização, pode ser que alguns projetos sejam colocados on hold.

Muitas vezes, você tem que estacionar algumas coisas, dar um tempo, voltar em um momento mais apropriado. O importante é não perder a direção. Sabemos dos altos e baixos das agendas nas empresas. Mas, se esses eventos afetam o objetivo maior – tipo ‘acho que não vou lidar mais com essas questões’ –, aí você tem um problema. Mas não é o que está ocorrendo. Vejo que, mesmo na adversidade, as empresas mantêm o foco em ESG.”

S DE SOCIAL, O MAIS DESAFIADOR 

“A representação das temáticas de ESG em três letras é mais por uma questão didática. É sempre muito importante o olhar transversal que essas questões devem ter. A gente não pode nunca se acomodar e achar que tem uma boa governança. Tem que estar atento, fazer benchmarks, entender as tendências, observar muito as culturas, perceber pontos cegos, pontos fracos, propor melhorias. Aí, sim, teoricamente, há mais proteção contra crises, sejam elas quais forem, e não só de confiança.

Uma empresa de impacto ambiental direto, certamente, tem que olhar com muita intensidade para as questões ambientais. Uma empresa de prestação de serviços precisa prestar atenção muito fortemente nas pessoas, nas questões sociais. Após a pandemia, vimos uma necessidade muito grande de olhar para o S do ESG, do social, por questões óbvias. Ficamos muito mais vulneráveis, mexemos com questões de saúde, as desigualdades aumentaram. O S é hoje o mais desafiador para os líderes corporativos.”

DIVERSIDADE, ESSENCIAL PARA A REPUTAÇÃO

 “Acelerar a diversidade nas empresas, com ações que fortaleçam reputação, depende de caso a caso. É muito difícil darmos uma receita pronta para isso. O importante é a relevância da agenda da diversidade. Que a empresa entenda genuinamente que diversidade, além de ser a coisa certa a fazer, agrega valor. A velocidade passa por aí, por conhecimento e liderança. Como isso vai se dar, depende muito da empresa, da cultura, do momento, das estratégias. Se houver conhecimento e liderança, sem dúvida nenhuma, essa agenda vai acontecer. As empresas estão sendo chamadas a atuar, e o mercado as está premiando e punindo de acordo com a sua atuação em diversidade. Esse é um item absolutamente relevante para reputação e imagem.”

Clóvis Malta é jornalista

clovis.malta@ankreputation.com.br


ENQUETE

Quanto você considera que as Eleições 2024 representam riscos de reputação para as empresas?

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS

Reputação se constrói ao longo de gerações
Artigo
3 MIN.

Reputação se constrói ao longo de gerações

Desafio é investir em boas relações com stakeholders, equilibrando retorno, risco e impacto

Por Bea Johannpeter
Leia mais
5 ações de ESG para conselhos de administração
Curadoria ANK
2 MIN.

5 ações de ESG para conselhos de administração

Artigo do Fórum Econômico Mundial trata de como o board pode garantir a inclusão da sigla em tudo o que a organização faz

Redação Reputation Feed
Leia mais
Mulheres podem favorecer sustentabilidade nas empresas
Curadoria ANK
2 MIN.

Mulheres podem favorecer sustentabilidade nas empresas

Estudo da FGV mostra relação positiva entre presença feminina e desempenho em ESG

Redação Reputation Feed
Leia mais
Toda crise um dia já foi um risco
One to One
2 MIN.

Toda crise um dia já foi um risco

Gerenciar riscos exige expertise, investimento e treinamento

Por Anik Suzuki
Leia mais
COMENTÁRIO

Preencha o formulário abaixo para enviar seu comentário:

Confira a opinião de quem já leu este conteúdo:

(nenhum comentário)