Antes do IPO, é preciso trilhar a jornada de reputação

Gerir a reputação é uma vantagem adicional para empresas que entram na Bolsa, como a Locaweb, em 2020

Redação Reputation Feed

“O IPO é o momento em que um grande escrutínio será feito”, diz Resende, superintendente da B3 — Foto: Divulgação/RF

Uma empresa com planos de ir ao mercado pela primeira vez precisa trilhar a sua jornada de reputação antes de partir para o IPO. Depois de quase três anos sem estreias na bolsa, há possibilidade de uma retomada de ofertas iniciais de ações no segundo semestre, uma oportunidade para empresas que querem aproveitar essa janela ou se preparar melhor para abrir capital.

A gestão da reputação corporativa intencional é estratégica para o sucesso do negócio e, nesse caso, uma vantagem adicional durante o processo de entrada na Bolsa. “O IPO é o momento em que um grande escrutínio será feito por investidores nacionais e internacionais, e analistas especialistas avaliarão a companhia com base nas informações públicas”, diz o superintendente de relacionamento com empresas da B3, Leonardo Resende.

A parte operacional do processo é caracterizada principalmente pela comunicação e exposição de informações da empresa e pelo enquadramento a uma série de exigências em conformidade com as regras e legislação. Empresas consolidadas e que têm a confiança dos stakeholders tendem a percorrer esse caminho com mais agilidade e eficiência.

Ao optarem pela abertura de capital, as empresas precisam estar aptas a cumprir as exigências de governança corporativa e a harmonizar os interesses com a sociedade, além de apresentar transparência e seriedade na gestão, avalia Resende, ressaltando: “Conhecer e trabalhar previamente sua reputação apoia as companhias na mitigação de riscos ao longo de uma oferta pública”.

Com mais transparência, as companhias que dispõem de melhor governança e, consequentemente, melhor reputação, tendem a captar um maior número de investidores e a ter maior liquidez nas ações e valor de mercado, diz Resende. O cumprimento dessas normas é importante para evitar que surpresas e questões relacionadas a desconhecimento venham a público por meio de investidores no âmbito das ofertas, o que poderia levar inclusive a uma alteração de planos.

Desafios: desinformação, fake news e adesão às práticas ESG

Um dos grandes desafios para qualquer empresa em tempos de internet, redes sociais, blogs e podcasts é o de blindar-se contra a disseminação de informações e dados equivocados, maliciosos e até mesmo divulgados em desconformidade com a regulamentação ou em prejuízo à estratégia do negócio, alerta o professor do Insper Otavio Yazbek.

No caso de empresas aberta, informações desfavoráveis podem se refletir muito rapidamente no preço das ações. “Numa sociedade como a atual, pode-se pagar um preço elevado por qualquer deslize, em razão, inclusive, da forma como circulam as informações”, reforça Yazbek, que presidiu a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entre 2009 e 2013.

Insper Otavio Yazbek - IPOs - Reputation Feed - ANK Reputation
É preciso ter processos decisórios adequados antes de ir a mercado, diz Yazbek – Foto: Divulgação / RF

Por isso, a empresa que pretende ir ao mercado precisa contar com processos decisórios adequados para lidar melhor com novos temas, seja para mostrar que as decisões foram tomadas de forma motivada, seja para evitar os riscos inerentes a processos “sem dono”. “É importante ter competências claras, ter um slot no conselho em que se discute isso, registrar discussões e divergências”, recomenda Yazbek.

Mais controle, transparência e visibilidade

A decisão pela abertura de capital é uma das mais complexas e importantes a serem tomadas pela empresa, divulga a B3 no Guia do IPO. As razões: o IPO altera significativamente a estrutura organizacional, transforma o posicionamento estratégico da organização, aumenta a transparência e altera a forma como a empresa é vista pelo mercado e a sociedade.

Na prática, ao abrir capital, a empresa passa a ter que divulgar informações financeiras trimestrais e de forma mais robusta, assim como periódicas e eventuais, cumprindo prazos e exigências dos órgãos reguladores. Esse volume de informações divulgadas ao mercado e o acompanhamento por parte de investidores e da mídia possibilitam maior visibilidade e reconhecimento de todos os públicos com os quais a empresa se relaciona.

Dois exemplos de IPOS das últimas rodadas

Duas empresas que estão em plena trajetória de construção de reputação e que já estrearam no mercado dão uma ideia, na prática, do que precisa ser feito com antecedência até o dia D. Uma delas é a Locaweb, hoje LWSA, de São Paulo, empresa de soluções digitais, com uma receita líquida de R$ 1,29 bilhão nos demonstrativos financeiros de 2023. A outra é a Boa Safra Sementes, de Formosa, Goiás, referência em produção de sementes de soja, com uma receita líquida informada de R$ 2,07 bilhões em 2023.

O CEO da LWSA, Fernando Cirne, subiu ao púlpito da B3 com integrantes da equipe em 6 de fevereiro de 2020. O CEO da Boa Safra Sementes, Marino Colpo, e time comemoraram o IPO da Boa Safra na B3 pouco mais de um ano depois, em 29 de abril de 2021.

Tanto LWSA quanto Boa Safra Sementes tiveram auditores independentes e parceiros estratégicos. Desde 2010, a hoje LWSA já estava associada à investidora SilverLake, o que impulsionou as aquisições de empresas e acabaria contribuindo, mais recentemente, para a mudança de razão social. A Boa Safra, igualmente, buscou um âncora na Hix Capital, procurando facilitar a operação de IPO com um sócio conhecido do mercado.

Time da Locaweb, no púlpito da B3, em fevereiro de 2020 – Foto: Divulgação

Alguns movimentos da Locaweb

  • Desde 2012, investe em formas de reduzir e otimizar o consumo de energia elétrica.
  • Criação, em 2019, do Comitê de Inclusão & Diversidade.
  • Adesão, em 2021, ao Pacto Global, firmando compromisso com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
  • Aumento de 0,7 ponto percentual na representatividade de mulheres no quadro de colaboradores e de 3,2 pontos percentuais na liderança feminina, atingindo 39,1% da base total, reportado em 2023.
  • O prédio em que funciona, em São Paulo, localiza-se em uma área verde nativa preservada de 40 mil m².

Fontes: Relatório de ESG e Site RI

Celebração da Boa Safra na Bolsa, em abril de 2021 – Foto: Divulgação

Alguns movimentos da Boa Safra Sementes

  • Conselho de Administração tem 80% de membros independentes.
  • O Conselho de Administração é presidido por uma mulher.
  • Empresa tem uma Comissão de ESG que conta com a participação de membros da liderança.
  • Em 2018 e 2019, foi reconhecida com o Selo Verde Instituto Chico Mendes, pela gestão socioambiental responsável
  • Tem uma usina fotovoltaica em unidade de Goiás e explora tecnologias com sementes de forragem que contribuam para a captura de carbono.

Fontes: Relatório de ESG e site RI

Expansão por meio de aquisições

Fundada em 1998 pelos primos Gilberto Mautner e Claudio Gora, a Locaweb, LWSA desde o rebranding em novembro de 2023, começou a funcionar em apenas uma sala, com um servidor e um investimento modesto.

A hospedagem de sites (hosting) serviu como plataforma para expandir os demais negócios, criar uma rede de desenvolvedores e impulsionar as operações de M&A.

Hoje, diz Henrique Marquezi, diretor de Relações com Investidores, a empresa oferece um ecossistema de soluções digitais e mudou de marca para acompanhar a sua transformação. Depois de mais de duas dezenas de aquisições, facilitadas pela abertura de capital quatro anos atrás, a LWSA busca se consolidar como um dos maiores grupos de tecnologia do Brasil, com base em duas premissas.

“O primeiro ponto é que a empresa sempre se preocupou em ser rentável”, afirma Marquezi. “O segundo é que, já em 2007, pensando no longo prazo, constituiu um conselho de administração independente.”

Agora é a vez do follow on

A Boa Safra Sementes está associada na origem à pessoa física do produtor de Goiás Neri Colpo, referência há décadas no plantio de soja. Na época da transformação em pessoa jurídica, em 2009, a opção foi a de separar os negócios semente e plantio, para facilitar a compreensão dos públicos de que são áreas distintas.

Desde o IPO, a empresa acumula ganhos. “Não foi sorte, mas resultado de uma preparação de governança, de processos, do management”, diz Felipe Marques, CFO e IRO da empresa. Ele ressalta que a visibilidade é muito maior, pois precisa haver mais transparência, gerando benefícios também para clientes e fornecedores. “Se a Boa Safra fosse uma empresa de capital fechado, não teríamos feito muitos negócios, incluindo os de M&A”, afirma.

Agora, a empresa de Goiás lança mais sementes ao solo. Na última quinta-feira (11/4), publicou fato relevante com as condições de seu follow on – oferta base de R$ 200 milhões, podendo chegar a R$ 400 milhões de hot issue. A ideia é utilizar os recursos na expansão do armazenamento de sementes e nos centros de distribuição.


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