ESG é uma exigência dos investidores, pois reduz riscos e indica reputação positiva

Vice-presidente da Firjan CIRJ Marco Saltini, coordenador de grupo de trabalho sobre o tema, aponta clima, diversidade e inclusão como prioridades atuais

Clóvis Malta

Enchentes no Rio Grande do Sul demonstram a importância das ações para conter aquecimento global, destaca Saltini – Crédito: Paula Johas / Divulgação Firjan

O alinhamento das empresas às práticas de ESG é um caminho sem volta, pois decorre de uma evolução da sociedade e de exigências dos investidores que, cada vez mais, buscam assegurar reputação com metas ambientais, sociais e de governança. Quem afirma é o vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan CIRJ) Marco Saltini, que coordena o Grupo de Trabalho Empresarial ESG na entidade, e também é vice-presidente da Volkswagen Truck & Bus.

“Infelizmente, quem não entender isso, terá dificuldades no mercado”, alerta. Para ele, o desastre causado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, por exemplo, mostra a importância das ações para conter o aquecimento global, apontado por cientistas como uma das causas para o maior número e em maior intensidade da ocorrência de eventos climáticos extremos. ”O tema mais presente, hoje, é a questão de mudança climática. Mas não é o único”, acrescenta.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Reputation Feed.

As enchentes no Rio Grande do Sul vão impactar os compromissos ou projetos das indústrias brasileiras para a redução da emissão de carbono e ambientais, contra o aquecimento global e as mudanças climáticas?

A catástrofe climática ocorrida no Rio Grande do Sul mostra a importância de ações para conter o aquecimento global. Para as empresas localizadas no território gaúcho, poderá haver um impacto momentâneo, mas que não deve comprometer metas estabelecidas de médio prazo.

Quais são os temas que estavam ganhando mais atenção até agora?

Há uma transformação ao longo dos últimos anos e uma mudança até de postura por parte da sociedade, mais preocupada hoje com questões que a afetam no dia a dia e para as quais, imprescindivelmente, por uma questão de imagem e de reputação, as empresas precisam estar atentas, sintonizadas com as novas vertentes e novas práticas. O tema mais presente, hoje, é a questão de mudança climática. Mas não é o único. Há uma preocupação muito grande com a questão da diversidade, da inclusão.

Obs.: Pesquisa realizada em 2023, com 162 empresas do RJ, a maioria grandes, com atuação nacional, e de médio e grande portes. Fonte: Firjan

E como os líderes corporativos se posicionam em relação ao ESG, na prática?

No dia a dia, o que já está no foco das empresas nessa área?

Sem dúvida alguma, temos trabalhado muito na questão de mudança climática. As empresas têm divulgado pautas para se alinhar com o Acordo de Paris e serem net zero em X tempo. Claro que são corporações mais globais, mas se preocupam em contribuir para a solução do clima enquanto parte da solução, não do problema. Esse é um desafio tremendo para todos nós, como sociedade. Ao mesmo tempo, quando a gente vai para um ambiente de empresas, independentemente do tamanho, nota que essas questões mais ligadas à diversidade, inclusão, equidade, estão mais presentes. Agora, dá para dizer que estamos num ponto que se possa considerar ideal? Acho que não. Isso sempre é um trabalho de melhoramento contínuo.

O que mais uma empresa ganha executando com rigor suas políticas internas de ESG?

Primeiro, acho que tem a questão da retenção de talentos. À medida que uma empresa se mostra mais alinhada com essas questões, acaba atraindo mais ou deixando de perder talentos. Esse é um ganho adicional quando se adota essas práticas. A sociedade vem evoluindo e passa a exigir que as empresas se empenhem mais. Além da questão do investidor, a própria reputação da empresa no mercado acaba trazendo benefícios adicionais.

Como se resolve o fato de sustentabilidade, num primeiro momento, significar mais investimentos e custos para as empresas?

Como brasileiros, estamos num país no qual é fundamental que o poder público também tenha ações nesse sentido. Hoje, estamos passando pelo problema da questão climática. Na Europa e nos Estados Unidos, há incentivos atrelados à mudança de rotas tecnológicas de transporte, à mobilidade das pessoas. Você trabalha no sentido de, olha, nós queremos nos livrar, vamos chamar assim, do combustível fóssil. Vamos partir para combustíveis mais sustentáveis. E dá incentivo para isso. No Brasil, infelizmente, nós ainda não temos isso. Mas é o que garante a competitividade dessas empresas.

Como são esses incentivos?

O Brasil tem um programa de emissões veiculares desde a década de 1980. Você estabelece metas de limites máximos de emissão, tem um procedimento de ensaio, avalia se o veículo atende aqueles padrões. Se atende, pode ser comercializado no mercado. E, ao longo do tempo, vai enrijecendo esses padrões, deixando mais rigorosos, fazendo com que os veículos emitam menos. A Europa usou, por muito tempo, um sistema em que era dado incentivo tributário antecipadamente às empresas que adotassem os padrões mais rigorosos antes do tempo definido. Como é que consegue vender no mesmo preço? Porque teve um incentivo tributário que permite equalizar o custo adicional. Aí, o concorrente conclui que também não pode ficar para trás.

O Brasil tem algo semelhante?

O Brasil nunca fez isso, apesar de a indústria ter proposto várias vezes. A questão da competitividade, necessariamente, está ligada ao ambiente de negócio em que você está, à percepção de que esse investimento pode ser compensado de outra maneira. É por isso que o poder público tem um papel fundamental nesse aspecto, de fomentar os investimentos das empresas para atender a essas novas necessidades da sociedade, sem que se tenha uma penalização de competitividade.

Mas o que, de fato, o poder público pode fazer para compensar a elevação de custos com ESG?

Não precisa, necessariamente, ser incentivo fiscal. Na Europa, é muito comum ter restrição à circulação de veículos em uma determinada área. E, com um nível de emissão mais baixo, o veículo pode acessar essa área. Há outros mecanismos, como compras governamentais. O poder público pontua mais quem investe em ESG. Apesar de o preço do produto ser maior, há um ganho adicional para a empresa que atende a determinados padrões.

De que forma as empresas estão encarando fatos mais recentes como consequência direta da crise climática – enchentes, desabamentos, calor excessivo etc?

A grande maioria dos conglomerados globais e de empresas responsáveis estão de fato preocupadas com a questão da mudança climática. Há uma adesão cada vez maior ao Pacto Global. As empresas começam a se preocupar em entender a sua pegada de carbono, nos três escopos. Nesse aspecto, nós, no Brasil, temos uma vantagem relativa. A gente tem uma matriz energética relativamente limpa, ou mais limpa, comparada com a dos demais países, principalmente os desenvolvidos do Hemisfério Norte. Quando se fala do Acordo de Paris, estamos falando de limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5ºC. Isso só vai ser alcançado se, realmente, todo mundo fizer um esforço grande para minimizar as emissões.

Clóvis Malta é jornalista
clovis.malta@ankreputation.com.br


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