Diz um antigo provérbio chinês que três coisas na vida jamais voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Felizmente vivemos numa época mais propícia às oportunidades do que às flechas, ainda que algumas lideranças mundiais continuem apelando para o belicismo para resolver seus conflitos. Porém, mesmo no ambiente da comunicação plena, da internet e da revolução digital, a palavra pronunciada mantém o seu potencial irreversível – tanto para construir civilizações quanto para destruir biografias e reputações.
A palavra é o mais importante instrumento de interação social entre os humanos. Por isso, liberdade de expressão não é apenas um direito individual assegurado aos cidadãos pelas constituições dos países democráticos. É o principal suporte da própria democracia. Na minha visão, a livre manifestação do pensamento é o que nos caracteriza como indivíduos civilizados, conscientes e aptos à cooperação, que é a nossa marca distintiva dos demais seres vivos.
Por pensar assim, passei toda a minha vida profissional defendendo a informação livre e a opinião plural nos veículos do Grupo RBS. E dediquei muito do meu tempo e de minha energia ao ativismo associativo, na presidência, na diretoria e no conselho de entidades comprometidas com o jornalismo profissional, democrático e responsável, como a Associação Mundial de Jornais, a Sociedade Interamericana de Imprensa e a Associação Nacional de Jornais.
“As pessoas conquistaram mais poder para se manifestar, mas as deformações também se ampliaram. As fake news, potencializadas pela inteligência artificial, tornam-se ameaças concretas às instituições democráticas.”
Ainda assim, reconheço que essa liberdade tão preciosa não pode ser um direito sem limites e muito menos um salvo conduto para discursos de ódio, para incitações ao crime e para a disseminação de preconceitos. Com a popularização da internet e das redes sociais, as pessoas conquistaram mais poder para se manifestar, mas as deformações também se ampliaram. A desinformação e a mentira ganharam relevância. As chamadas fake news, agora potencializadas pela inteligência artificial, tornam-se ameaças concretas às instituições democráticas em todo o mundo.
Nesse contexto, o grande desafio dos cidadãos é encontrar caminhos para conter excessos que destroem o tecido social sem restringir a própria liberdade de pensamento e crítica. Ainda que algum tipo de regulação da comunicação digital tenha se tornado necessária e urgente diante do descalabro atual, continuo a acreditar que a educação é a melhor e mais democrática alternativa para a comunicação consciente, pacífica e construtiva.
Jayme Sirotsky é presidente Emérito do Grupo RBS e diretor-presidente do Instituto Jama