Desde a Revolução Industrial, no século XVIII, empresas existem com o objetivo de resolver problemas e, como consequência, geram valor para seus acionistas. E mesmo com toda evolução tecnológica, a lógica até pouco tempo atrás sempre foi essa. Não tem nada de errado nisso. No entanto, de alguns anos para cá, a maneira como as pessoas enxergam os negócios se transformou. E, a partir daí, outros fatores passaram a ser considerados.
Em linha com o que demonstram estudos sobre a adesão de clientes e o engajamento de colaboradores com empresas e marcas orientadas por boas práticas e compromissos sociais e ambientais, fundos de investimento surgiram com objetivo de investir em organizações que, além de serem bons negócios, geram impacto positivo na sociedade.
Além da capacidade da empresa de gerar retorno financeiro, outras premissas são analisadas. São avaliados o tamanho do mercado, se é relevante o problema que o time se propõe a resolver, se o produto é de qualidade, se há capacidade de produção e entrega e quais são as barreiras de entrada, entre outras variáveis. Mas será que isso é suficiente?
“O sucesso do processo de investimento trata também de reputação.”
Para que uma jornada de investimento, que pode durar até 10 anos, seja bem-sucedida, é muito importante avaliar quem são as pessoas envolvidas. O que isso quer dizer? O sucesso do processo de investimento trata também de reputação e passa por perguntas e respostas.
1. Qual é a trajetória do empreendedor e da equipe que fazem parte do projeto?
2. Como atuaram em outros negócios e relações empresariais?
3. Como enfrentam desafios?
4. Durante o percurso, se houve alguma situação desabonadora, como lidaram com o episódio?
Se as respostas incluírem transparência, ética e respeito, é muito provável que a empresa esteja na frente diante de oportunidades. A credibilidade vai diferenciá-la. No entanto, o oposto traz danos. Acompanhei, por exemplo, um caso de falta de transparência do empreendedor com o acionista, que acabou em uma gigantesca perda de confiança e custou seu cargo de CEO.
Por outro lado, já vivenciei uma situação na qual o empreendedor, sempre muito correto e transparente, não aceitou um investimento de um grupo de investidores do qual eu fazia parte, pois os termos propostos não faziam sentido para ele naquela situação. O tempo passou e, três anos depois, nós tivemos a oportunidade de investir na empresa e chegar a um acordo. Isso não teria sido possível se as partes não tivessem agido com ética e transparência.
Um negócio não se limita a retorno financeiro. Sempre será uma relação de confiança baseada em pessoas, no legado que os sócios e as empresas as quais representam construíram. No fim das contas, é tudo sobre uma jornada de gente, que vai muito além do dinheiro.
Mauricio Sirotsky Neto é sócio-fundador da RBS Ventures, sócio-diretor da Maromar Investimentos e membro do Conselho do Grupo RBS
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