Na semana em que se inicia oficialmente a campanha para as eleições municipais 2024 no Brasil, Anik Suzuki, CEO da ANK Reputation, analisa os riscos reputacionais para empresas e líderes nestes períodos – num contexto que combina um ano recorde de pleitos pelo mundo com polarização, cancelamentos e disseminação crescente de desinformação, fake news e deep fakes.
Partidos e governos passam, empresas e seus líderes ficam.
Eu costumo repetir essa frase a cada período eleitoral que se inicia, e, em 2024, não será diferente. Vêm aí as eleições municipais e, com o pleito, os riscos de imagem e reputação para marcas e pessoas. Apesar de ser um exercício sempre muito bem-vindo da democracia, em meio a processos eleitorais surgem armadilhas que geram rupturas no ambiente corporativo e prejuízos de diversas naturezas, inclusive financeiros e de relacionamento com stakeholders.
Quem nunca acompanhou, mesmo como observador, casos de desentendimentos entre líderes e subordinados, colegas, executivos e seus clientes e em grupos dos quais participa em eleições passadas? Isso sem mencionar os problemas com familiares, amigos e pessoas próximas.
Esse fenômeno não é novo e nem exclusivo do Brasil. Em 2024, porém, o tema inspira ainda mais cuidados. Em todo o mundo, cerca de 2 bilhões de pessoas, ou seja, quase metade da população adulta do planeta, estão convidadas ou convocadas a ir às urnas em mais de 60 países – um recorde eleitoral histórico. Nunca houve tantos eleitores em um número tão grande de nações escolhendo seus mandatários, fato que levou muitos analistas a denominarem 2024 como o “Ano das Eleições”.
Por aqui, serão quase 156 milhões de eleitores e eleitoras a escolherem prefeitos e vereadores em 5.569 localidades. Se por um lado essa coincidência parece ser positiva para o fortalecimento das democracias, e, por consequência, das relações empresariais, a quantidade de pleitos não é garantia de qualidade democrática. Polarização, agressividade, cancelamentos, desinformação, fake news e deep fakes são vitaminados nesses momentos e contaminam não só o ambiente político como os negócios e a economia. E não há qualquer perspectiva de serem eliminados do nosso dia a dia.
No início deste ano, o Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial alertava sobre o uso generalizado de informação falsa e desinformação, bem como as ferramentas para divulgá-las, em meio ao crescimento da Inteligência Artificial. O relatório registrou: “É um dos maiores riscos ao planeta em 2024 e 2025 – anos de eleições no mundo”. Manifestações violentas e crimes de ódio até confrontos civis e terrorismo, são parte das consequências apontadas pelo documento. Vale sempre se perguntar: a quem esses atos interessam?
Entenda: enquanto para alguns vale o “tudo ou nada”, para você e sua empresa existe muito a perder.
Por isso, como uma dica simples antes de ingressar no jogo de interesses de um processo eleitoral, responda para você mesmo essas perguntas:
Por que quero manifestar publicamente minha opinião sobre determinado candidato/partido?
a. Para influenciar pessoas
b. Porque preciso desabafar
c. Porque acredito que todos querem saber minha posição
Por que altero a voz, brigo, entro em discussões nas redes ou me retiro de grupos quando as opiniões são contrárias às minhas?
a. Para convencer os outros
b. Para fazer valer minha visão
c. Porque não tolero pessoas que pensam diferente
Por que mesmo sendo líder de pessoas e negócios entendo que devo abrir meu voto ou manifestar publicamente minhas opiniões pessoais?
a. Liberdade de expressão acima de tudo
b. Os incomodados que se retirem
c. Não posso perder minha identidade para aderir aos padrões corporativos
Se você conseguiu responder às perguntas e sentiu-se bem com as respostas, então, vá em frente, tendo clareza dos riscos e possíveis consequências. Mas, caso tenha sentido desconforto ou dúvida, talvez você deva analisar se parte dessa manifestação acalorada, excessiva, não é apenas um piloto automático (“vejo todo mundo fazendo, agora é minha vez”), busca de pertencimento (“quero ser parte desta tribo”) ou, quem sabe, vaidade (busca por likes e aprovação).
Esta é uma conversa dura, mas necessária, sobre um tema cercado de passionalismo. Particularmente, acredito que ninguém muda o voto de ninguém por postagens em grupos ou nas redes sociais, comentários ou críticas em reuniões e conversas de bar.
Se a probabilidade de sucesso é baixa e o impacto do sinistro é alto, ao se arriscar entrar nesse redemoinho, você poderá estar sacando credibilidade de sua poupança de reputação e prejudicando a sua empresa.
Cautela, serenidade, reflexão e autocontrole é o que recomendo.
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Anik Suzuki é jornalista e CEO da ANK Reputation
aniksuzuki@ankreputation.com.br
Leia o documento com orientações ANK para gestão de riscos de imagem e reputação no contexto eleitoral: