COP 30 promove competitividade, diz empresária da Firjan

Investidores valorizam práticas sustentáveis para gestão de risco e setor privado está atento ao valor da reputação, garante Claudia Guimarães

Clóvis Malta

À medida que a COP 30 se aproxima no calendário, refletir sobre emergência climática e sua relação com a economia sustentável e a jornada da construção de reputação é essencial para agir a tempo do evento que se realiza em Belém. Por isso, o Reputation Feed ouviu a vice-presidente do Conselho Empresarial ESG da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Claudia Guimarães.

Ela alerta que, para o setor empresarial, a COP 30 representa uma oportunidade de competitividade, além de mais acesso a financiamentos e adaptação às novas exigências ambientais. No entanto, o Brasil, incluindo seu setor privado, tem questões ambientais importantes para enfrentar até a realização do evento para se firmar como um player estratégico da agenda climática global.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

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Qual a importância da COP 30 para o setor empresarial e para o Brasil como protagonista nas discussões climáticas? O que se pode esperar de resultados práticos do evento?

A COP 30 será crucial para posicionar o Brasil como protagonista nas negociações climáticas, impulsionando os investimentos verdes, a inovação sustentável e a regulamentação do mercado de carbono. Para o setor empresarial, representa uma oportunidade de competitividade, acesso a financiamentos e adaptação às novas exigências ambientais.

Quais são os principais desafios que o setor privado brasileiro precisa enfrentar para chegar à COP 30 com mais vantagens competitivas como player mundial de uma economia sustentável?

É muito importante que o setor privado brasileiro, no contexto da COP, possa superar desafios estruturais para ser competitivo em uma economia sustentável. A gente está falando, por exemplo, da transição para modelos de economia circular, que ainda enfrentam barreiras regulatórias, de implementação prática.

A qualificação da mão de obra também precisa evoluir para atender às demandas da nova economia verde. Outro ponto igualmente importante é o alto custo do capital, que pode dificultar investimentos em inovação e sustentabilidade. A gente precisa superar essas questões para permitir ao Brasil se posicionar como player estratégico da agenda climática global. Também são temas importantes a necessidade de maturidade das novas políticas públicas e estratégias empresariais que sejam alinhadas a todas as normas técnicas brasileiras, as NBRs e ISOs que regem o setor.

Como o setor privado avalia o impacto da reputação do Brasil como um país que desmata a Floresta Amazônica na própria reputação e nos negócios?

Reputação é um ativo intangível e de grande valor, e ele é reconhecido pelo setor privado. O fato de termos problemas históricos no Brasil, como a questão do desmatamento, faz com que o setor privado busque meios de garantir que a sua atividade não vá compactuar e nem contribuir para esse problema. As empresas vêm buscando reverter essa percepção por meio de iniciativas de conservação e restauração em diversos biomas. É uma estratégia importante do setor na mitigação desses impactos que podem ser na diversificação dos investimentos em diferentes biomas e nessa promoção de práticas sustentáveis que podem trazer o fortalecimento da reputação.

A perda de força do ESG na agenda de países influentes e de grandes empresas pode afetar os resultados da COP 30?

Nessa alegação de que o ESG está perdendo força globalmente, tem aí uma narrativa que reflete muito mais o posicionamento da geopolítica, o pensamento de alguns líderes específicos, do que de fato uma tendência de mercado. Temos que considerar especialmente os reflexos do ESG no mercado financeiro. Os investidores continuam valorizando as práticas sustentáveis como parte essencial da gestão de risco. Então, trazendo aqui para o contexto da COP, a agenda climática está muito atenta ao cenário geopolítico e as indústrias e empresas em geral seguem enxergando vantagens competitivas nessa transição para uma economia de baixo carbono.

Sob o ponto de vista de reputação corporativa, como as empresas podem usar o ESG como um diferencial competitivo e não apenas como uma resposta a pressões regulatórias e de mercado?

Vou trazer o exemplo prático da Firjan, que cria um conselho ESG robusto com as maiores empresas do país em operação no Rio de Janeiro, que nasce com uma representatividade muito potente. Temos uma pesquisa demonstrando esse compromisso, mais o Prêmio Firjan de Sustentabilidade. Isso traz uma jornada de reconhecer ações, projetos, práticas com impacto, com medição. Quando você atua com ESG, com temas práticos sociais, ambientais, de governança, isso traz resultados e impactos positivos com a criação de valor compartilhado. Você cria valor para a empresa, para o acionista, para o cliente, para todos os stakeholders, para a sociedade.

Como as empresas podem comunicar de forma eficaz suas iniciativas ESG para fortalecer sua reputação e engajar seus stakeholders?

A gente tem ações para desenvolver pequenas e médias empresas nesse caminho. As empresas mais estruturadas têm uma comunicação institucional mais madura, divulgam seus relatórios. Hoje, esses relatórios são obrigatórios para empresas de capital aberto. Mas, muitas que não são, também produzem relatórios de forma voluntária, bem consistentes. Essas ações de governança são importantes para demonstrar a materialidade do negócio e trabalhar no engajamento das partes interessadas.

Qual o impacto da COP 30 nos projetos de transição energética e de novas fontes de energia limpa no país e como essa mudança contribui para a reputação do setor privado brasileiro?

Estou falando aqui como Firjan e tenho orgulho de trabalhar em uma empresa 100% renovável no país, que tem uma grande contribuição para essa transição. Na transição para fontes de energia renovável, trabalhando no combate às mudanças climáticas, para a redução das emissões de gases de efeito estufa, temos que ter um modelo energético mais equilibrado.

Além do impacto ambiental, essa mudança também está ligada à justiça climática. A gente precisa fazer com que comunidades vulneráveis tenham acesso a uma energia limpa, acessível, segura, pois isso contribui para reduzir desigualdades socioeconômicas.

Um outro ponto é a conexão com a bioeconomia, permitindo o aproveitamento sustentável de recursos naturais. É um diferencial competitivo na geração de empregos, na inovação, no desenvolvimento. Já temos formas de desenvolvimento sem comprometer os ecossistemas, mas ainda há potencial para expansão.

Clóvis Malta é jornalista
clovis.malta@ankreputation.com.br


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