Abilio Diniz, um legado que transcende os negócios

Empresário, com uma trajetória marcada pela resiliência, inspirou gerações de empreendedores no Brasil

Redação Reputation Feed

Abilio Diniz
Abilio Diniz construiu uma jornada de reputação amparada no empreendedorismo, no comprometimento com o futuro do país, no otimismo e numa vida dedicada ao bem-estar – Foto: BrunoSantos/Folhapress/Reputation Feed

Mais do que um dos empresários que se tornaram símbolo de esperança no futuro até mesmo em um período de economia fechada e com inflação em descontrole, Abilio Diniz, falecido no domingo, 18, aos 87 anos, foi um visionário e um exemplo de confiança no Brasil. Com sua mentalidade de longo prazo, transformou o Grupo Pão de Açúcar em um gigante do varejo, com inovações como hipermercados e autosserviço. O sucesso da organização familiar fundada por seu pai, que se expandiu rapidamente, demonstrou sua habilidade em construir e manter confiança tanto entre os consumidores quanto entre os investidores, deixando um legado infinitamente maior do que o ligado às empresas e ao seu patrimônio.

Abilio Diniz, um eterno entusiasta do mercado e do futuro do país, sempre foi um apaixonado pela vida e pelos negócios. E é o autor de frases inspiradoras como essas, entre as muitas que ficarão na lembrança:

Dos períodos de economia desorganizada aos mais recentes, não havia “tempo ruim”, como ele costumava afirmar em suas concorridas aulas no curso liderança e gestão da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ou na CNN Brasil, onde, em seus últimos anos, trocou o papel de entrevistado pelo de entrevistador.

E essa característica só o manteve ao longo de décadas como um dos líderes mais escutados do país, nos meios corporativo e governamental, devido à sua resiliência e à capacidade de superar obstáculos. Sem elas, não teria estendido sua trajetória a empresas como o Carrefour, a BRF, nem conquistado uma fortuna avaliada em cerca de US$ 2 bilhões, o equivalente a R$ 10 bilhões.

Foto: Divulgação/ FGV
Assista também ao vídeo em que Abilio conta sobre a satisfação de voltar para a FGV, onde foi aluno na segunda turma de Administração, nos anos 1950, para dar aulas e dividir sua trajetória no curso de especialização Liderança 360°

Abilio Diniz sempre declarou competitivo – e não apenas nos esportes, eterna fonte de inspiração também em sua atuação corporativa. Ainda nos anos 1960, já um empresário bem-sucedido, tornou-se piloto vitorioso do automobilismo brasileiro, com um Alfa Romeo vermelho. Compartilhava suas dores e conquistas pelas redes sociais, com ênfase na divulgação do empreendedorismo. No último vídeo que postou antes de ser hospitalizado e levado à morte por insuficiência respiratória em consequência de uma pneumonite, estava numa paisagem de neve lamentando não poder esquiar, como gostava de fazer todo mês de janeiro, devido a problemas no joelho.

Quem o acompanhava mais de perto costuma considerá-lo mais do que apenas competitivo: era um obsessivo em tudo que fazia. “Sempre encarei a vida como competição”, disse o empresário em entrevista nos anos 1990, ao comentar que tinha começado a competir no triatlo, uma competição que envolve natação, ciclismo e corrida. Muitos brasileiros vão lembrar de ter visto o empresário se exercitando pelas ruas, principalmente na Praia da Enseada, em Guarujá. Abilio Diniz foi um defensor fervoroso da qualidade de vida, física e mental, e do autoconhecimento.

O otimismo e confiança associados ao esporte se transferiram também para o potencial do país e reforçaram a resiliência do empreendedor tanto na vida corporativa quanto na pessoal. Abilio Diniz foi um empresário que, a partir de uma doceria fundada em 1948 por seu pai, um imigrante português, no bairro Paraíso, em São Paulo, criou milhares de empregos e contribuiu para o desenvolvimento da economia brasileira. Como líder corporativo, foi um incentivador das práticas de sustentabilidade e de inclusão social. Fundou o Instituto Península, que investe em educação e desenvolvimento social e, na área oficial, integrou o Conselho Monetário Nacional (CMN).

Na vida pessoal, a resiliência ajudou-o a superar sucessivas crises, como disputas familiares, um sequestro traumático e a maior de todas: a morte de um dos filhos, João Paulo Diniz, vítima de um ataque cardíaco aos 58 anos. “Sem meu filho, vou me reinventar e seguir em frente para ajudar o país”, disse na época. O empresário nunca se importou em expor publicamente suas dores, buscando amparo na família e nos relacionamentos.

Essa mesma resiliência contribuiu para que, no final dos turbulentos anos 1980, Abilio tenha sido uma figura decisiva para salvar o próprio Pão de Açúcar de graves problemas financeiros, motivados também por acirradas disputas familiares.

O líder, que sempre esteve entre as vozes mais ouvidas em períodos de economia adversa, conseguiu reerguer a empresa e vender 25% do negócio para o grupo francês Casino, como forma de assegurar uma injeção de capital. Mais adiante, iria do varejo para a indústria, tornando-se investidor na BRF, além de seguir no comércio com uma fatia de 10% do Carrefour, por meio da Península, a holding que cuida dos negócios da família.

“Uns sonham com o sucesso, nós acordamos cedo e trabalhamos duro para consegui-lo.”

“Quero ser hoje melhor do que fui ontem e amanhã, melhor do que sou hoje.”

“Ser criativo é fazer diferente, inovar e reinventar para criar o futuro.”

E também para que, no tempos inflacionários, Abilio pudesse se expandir, adquirindo empresas, e manter o que havia se esforçado em construir ao longo de décadas: sua reputação. Num ano em que foi inclusive cotado para ser ministro, marcado por congelamento de preços, chegou a ser indiciado sob alegação de sonegar mercadorias. Abilio ironizou a situação: “Fui de (possível) ministro a inimigo público número 1” – e seu histórico ajudou-o a evitar maior desgaste de imagem, preservando seu legado.

Nessas e em outras circunstâncias, o empresário valeu-se do que considera essencial para uma vida feliz – e de bem com todos os seus públicos, detalhada em um de seus livros, Caminhos e Escolhas, de 2004: atividade física, alimentação, controle do estresse, autoconhecimento, amor e espiritualidade e fé. Em 2016, ele retornaria com outro best seller, Novos Caminhos, Novas Escolhas, no qual sintetiza esses cuidados numa questão central: reinvenções da vida pessoal e profissional.

Reinventar-se foi o que Abilio Diniz sempre fez e é esse um dos aprendizados de seus 87 anos de vida plena que deixa como legado.


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