Os sócio diretores da Docile Ricardo, Fernando e Alexandre Heineck falam sobre a sua trajetória, suas conquistas e desafios, seus valores empresariais e como trabalham pela reputação da marca e do legado da empresa de guloseimas que fundaram em Lajeado (RS) e hoje é a maior exportadora brasileira do segmento.
Em poucos dias, quando o mundo estará voltado para os Jogos Olímpicos de Paris, a empresa gaúcha Docile terá um lugar especial na ‘disputa’. A fabricante de doces e balas é parceira do Time Brasil, ou seja, o doce oficial da marca dos atletas brasileiros na França. Com a parceria fechada com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), além de aumentar a sua visibilidade, potencializar mercados aqui dentro e lá fora e fortalecer a sua conexão com o consumidor jovem, a empresa propaga os valores que contribuem para a sua reputação.
Assim como os princípios do Olimpismo – amizade, igualdade, compreensão mútua, solidariedade e fair play –, o propósito e os valores da empresa estão muito relacionados à gentileza, ao respeito, à simplicidade, à colaboração e à dedicação para fazer, com criatividade, o melhor possível.
A iniciativa é mais um passo na estratégia da marca, que tem se unido a parceiros que compartilham de reputação inspirada em valores semelhantes. Por isso, tem como embaixadora oficial, desde 2022, a skatista Rayssa Leal, prata em Tóquio 2020. Não poderia ser uma escolha mais feliz. Ela é uma das maiores promessas para Paris e dona do coração da torcida brasileira. Neste ano, juntaram-se à fera do skate para as campanhas da marca Rebeca Andrade, da ginástica artística, Ary Borges, do futebol, e Darlan Romani, do arremesso do peso, além de influencers que conversam na mesma língua que os clientes da Docile.
De distribuidora de matéria-prima a indústria com faturamento de R$ 750 milhões
Entre as principais fabricantes do setor no Brasil e maior exportadora brasileira de guloseimas, a Docile preserva, com a imagem alegre, jovem e inovadora, o mesmo espírito desbravador da empresa que nasceu há quase 35 anos, em Lajeado, município de porte médio, a cerca de 100 quilômetros de Porto Alegre. Naquela época, tempo do desastroso Plano Collor e de hiperinflação persistente, nem o cenário econômico desfavorável diminuiu o apetite empreendedor de seus três fundadores.
Ricardo, Fernando e Alexandre Heineck têm a resiliência e o brilho nos olhos daqueles que querem fazer dar certo e um ingrediente especial: são descendentes de homens e mulheres com a vocação para o ofício de produzir doces.
Os três começaram com uma distribuidora de matéria-prima para a indústria de alimentos, investindo inicialmente cerca de R$ 200 mil, a preços atualizados. Hoje, comandam a empresa familiar, que tem 1,7 mil colaboradores e faturamento estimado em R$ 750 milhões para 2024.
“Sempre buscamos a diferenciação em tudo o que fizemos. Fazer bem-feito é um dos nossos primeiros princípios e estratégia.”
Ricardo Heineck
No início, estavam na linha de frente, Alexandre, o mais novo, então, com 23 anos, e Fernando, com 26. Ricardo, com 29 anos, era parceiro na sociedade, mas ainda trabalhava com Nestor, seu pai, na indústria de balas Florestal, também de Lajeado, empresa originada na garagem do avô, Natalício Heineck, doceiro artesanal e empreendedor nato. Nestor herdou a vocação de Natalício e inspirou os filhos a, literalmente, colocarem a mão na massa, lançando o seu próprio negócio e construindo muito mais do que uma fantástica fábrica de guloseimas.
Muita história e trabalho dedicado passaram-se até esse relato, feito pelos quatro, Nestor, Ricardo, Fernando e Alexandre ao Reputation Feed, durante uma visita à sede da Docile.
Da distribuidora, poucos anos depois passaram a produzir refrescos em pó e, mais adiante, balas de gomas e pastilhas. No início tudo era muito rudimentar. Precisaram, inclusive, adaptar equipamentos para produzir.
“Nós fomos da betoneira, hoje ali na frente da empresa, ao melhor equipamento do mundo dentro da nossa fábrica”, afirma Alexandre, comparando o período em que recorreram a uma betoneira para misturar ingredientes ao momento atual.
O utensílio agora repousa como peça de museu e lembrança de como tudo começou, em frente ao prédio administrativo da Docile, enquanto suas fábricas aliam moderna automação, com robotótica, e a capacitação de profissionais.
Atualmente, a linha alcança mais de 180 produtos, incluindo regaliz (canudinhos), chicles, balas de gelatina e marshmallows, produzidos em Lajeado e na unidade fabril de Vitória de Santo Antão (PE). “Nos orgulhamos demais dos produtos que produzimos. Temos uma fábrica que é uma fortaleza, desde 2008, com equipamentos só de primeira linha. E ainda grande engajamento, graças ao nosso clima organizacional”, resume Fernando. São mais de 4 milhões de quilos de guloseimas por mês, o que corresponde a mais de 200 mil quilos por dia. O que isso significa? Nada menos do que oito cargas de carretas de guloseimas, com 25 mil quilos.
Pesquisa, certificações, qualidade e reputação
Boa parte do que sai das linhas de produção da Docile foi desenvolvida com muita pesquisa direto no mercado. Uma de suas práticas recorrentes é comparecer às principais feiras internacionais do segmento, onde também buscam insights. Eles rodam o mundo. Alexandre negocia cada pedido de exportação e busca atender as exigências dos clientes estrangeiros. Ricardo, que é extremamente focado em qualidade e inovação, busca inspiração para lançamentos de produtos. E Fernando percorre as mostras para se atualizar sobre o que há de mais moderno em tecnologia e maquinários para a produção.
“Nos orgulhamos dos produtos que produzimos. Temos uma fábrica que é uma fortaleza, desde 2008, com equipamentos só de primeira linha. E ainda grande engajamento, graças ao nosso clima organizacional.”
Fernando Heineck
A reputação foi conquistada com o tempo. “Fomos melhorando portfólio, a qualidade dos produtos e buscando certificações com relevância global chancelando a Docile como fornecedor confiável, nos validando em termos de qualidade”, explica Alexandre. Por isso, a empresa valoriza muito as certificações obtidas, como a internacional FSSC22000, de segurança de alimentos. Hoje, a Docile exporta para mais de 80 países.
A empresa também busca aumentar a sua visibilidade no mercado nacional. Uma de suas estratégias é a expansão da marca por meio de pontos de venda – além das ações como a parceria com o time Brasil nos Jogos Olímpicos, apoio que também se estende ao time paralímpico de atletismo Naurú, projeto de esportes de alto rendimento criado pela atleta Verônica Hipólito. A Docile já tem quiosques em Lajeado e no aeroporto de Congonhas (SP) e, mais recentemente, instalou uma unidade no parque Hopi Hari, em Vinhedo (SP). Esses dois últimos, além de estarem localizados em áreas de muito movimento, fortalecem a presença da marca no maior mercado consumidor do país. ”Nós sempre buscamos a diferenciação em tudo o que fizemos, nos produtos, com textura, sabor, embalagem. Fazer bem-feito é um dos nossos primeiros princípios e estratégia”, reforça Ricardo.
Governança e sucessão
Há 14 anos, a empresa e os sócios passaram a adotar uma série de práticas de governança, como acordo de acionistas, clareza dos papéis na sociedade e dos executivos, instalação de Conselho de Administração e cultura orçamentária. “A Docile está acima dos nossos interesses particulares”, afirma Ricardo.
Os três sócios ocupam cargos executivos na empresa, mas vêm compondo a diretoria executiva com profissionais de dentro da própria Docile e também do mercado. “Procuramos estar muito próximos das pessoas, investindo nelas e incentivando a participação no negócio”, afirma Fernando. Para Ricardo, uma empresa familiar, administrada profissionalmente, pode ser muito mais eficiente do que uma organização gerida apenas por executivos de mercado. “Há uma visão maior de longevidade, e a dedicação talvez seja um dos pontos fortes da empresa familiar”, reforça.
A segunda geração também já mostra interesse e está sendo preparada para atuar na empresa. Ao todo, são seis os descendentes e, todos, estudantes ou já formados em Engenharia de Produção: Laura e Júlia, filhas de Ricardo; Tainá e Felipe, de Fernando; e Marina e Gabriela, de Alexandre. Além disso, eles estão se desenvolvendo de forma profissional para serem sócios, inclusive com suporte de um executivo que atuou em family offices de tradicionais famílias empresárias do Brasil, informam os pais.
“A chegada dos filhos pode deixar o negócio ainda melhor. Tenho a crença, uma dose muito alta de confiança, de que o ingresso de uma nova geração pode fazer ainda melhor do que nós.”
Alexandre Heineck
Dos seis netos de Nestor, Thainá e Laura já trabalham na Docile. Tiveram a quem puxar. Perguntando sobre o que sente ao assistir o ingresso dos descendentes na Docile, Nestor responde: “Sinto muita alegria. Vejo meus netos com muitos interesses na empresa. E eles recebem orientação. Se eles não quiserem trabalhar aqui, não serão obrigados, mas que sejam bons sócios. Eu sempre disse isso para eles. Normalmente, as empresas que vão mal depois de mudar a geração, é que não foram preparados para isso.”
É para deixar o coração bem quentinho mesmo, como um marshmallow recém-saído da máquina.
Christianne Schmitt é editora do Reputation Feed
Christianne.schmitt@ankreputation.com.br