Muito se tem falado sobre inteligência artificial. Além de comentar o assunto, parece que estamos consumindo informações e dados sobre a IA, mas não opinando sobre o que queremos dela. A tecnologia fará parte inseparável do cotidiano, trazendo impacto para a vida das pessoas – com risco de afetar a reputação de empresas, governos e pessoas.
A relação entre reputação e tecnologia não é nova. A comunicação vem evoluindo muito em seu alcance, especialmente nas últimas duas décadas. Passou de um sistema no qual um emissor falava para muitos receptores (como no caso dos jornais, da rádio e da TV) para um em que emissores e receptores se comunicam bi, tri ou pluridirecionalmente, graças à Internet. Esses sistemas são tidos como base, não apenas para a construção da reputação de pessoas físicas e jurídicas, mas também como forma de relacionamento com elas.
Nessa era de desafios complexos, precisamos usar a escala da capacidade coletiva para desenhar o futuro. Afinal, para quem não sabe aonde vai, qualquer lugar serve. Você concorda que pensar nas consequências para sua reputação após a definição de um modelo regulatório será muito mais complexo?
No caso da inteligência artificial, essas regras ainda serão moldadas e a dinâmica deste mercado será definida. Mas, aparentemente, sobre isso, estamos apenas funcionando como receptores de informações, evitando (ou mesmo sendo desincentivados a) ter posicionamentos individuais. No entanto, isso pode e deve mudar a partir de agora. A Abranet e o ITS juntaram-se às lideranças de vários setores no Conselho de Inteligência Artificial e Sociedade (CIAS) e foi lançada uma consulta pública aberta à ampla participação para discutir a regulamentação da inteligência artificial no Brasil. O site da consulta é: https://www.oquequeremosdaia.com.br/
A pergunta central é o que o Brasil quer da inteligência artificial? Por Brasil, nos referimos a todos nós. Com essa resposta, a segunda fase da consulta irá redigir um modelo de lei para a inteligência artificial que reflita as necessidades e os anseios do país nessa área, conforme consensos forem sendo alcançados. O espaço já está aberto a contribuições. Queremos ouvir pessoas, empreendedores e iniciativas sociais (dentre outras) para mudar essa lógica de que devemos ser consumidores do futuro tecnológico que nos é apresentado.
Sabemos que a reflexão nem sempre é fácil, mas precisamos que esse movimento colaborativo atualize nosso papel perante a tecnologia, posicione o Brasil na web 3.0 de forma ativa e produza legislação assertiva, capaz de favorecer os negócios e pessoas no país.
Os prós e contras da tecnologia
Segundo reportagem da revista Time, a IA é a revolução mais importante desde a criação das mídias sociais. Hugh Forest, copresidente e diretor de programação do SXSW, também levantou a questão em março de 2024: “Estou muito animado com as possibilidades da IA. Mas também estou extremamente apreensivo quanto às possibilidades negativas. Governos precisam se envolver para fornecer diretrizes e orientações. Eu não sei como essa regulamentação deve ser, mas há muitas mentes brilhantes que podem descobrir esses detalhes”, afirmou.
Quem trabalha na área acredita que é só o começo: a inteligência artificial vai reorientar o modo como a gente trabalha e se engaja com o mundo. Entre as vantagens, estão destravar a criatividade e as descobertas científicas e permitir à humanidade ativar coisas inimagináveis – previsões da PwC dizem que tudo isso pode turbinar a economia global até mais de US$ 15 trilhões em 2030. O problema, para quem estuda o assunto, é repetir o maior pecado da rede social: priorizar crescimento e não segurança, espalhando desinformação e fortalecendo discursos de ódio.
Precisamos das mentes brilhantes que vão utilizar as tecnologias para encontrarmos o ponto ótimo entre todas essas variáveis. Não cabe mais depender apenas dos reguladores como criativos de soluções. Como Forest também disse, apesar da imensa maioria das palestras do SXSW afirmar que a IA nos tornaria mais criativos, é difícil ter certeza de que isso acontecerá se perdermos o que significa ser humano.
Nessa era de desafios complexos, precisamos usar a escala da capacidade coletiva para desenhar o futuro. Afinal, para quem não sabe aonde vai, qualquer lugar serve. Você concorda que pensar nas consequências para sua reputação após a definição de um modelo regulatório será muito mais complexo?
Carol Conway é presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet).
Os artigos assinados refletem a opinião dos autores.