Se você é um dos 156 milhões de brasileiros que fica online com certa regularidade, já percebeu na sua timeline a presença contundente de Pablo Marçal. O candidato transpôs os limites de São Paulo, onde concorre a prefeito, menos por seus projetos para a administração da maior cidade do país e mais pelo enorme engajamento nas redes, que, antes de serem suspensas pela Justiça Eleitoral, tinham cerca de 17 milhões de seguidores, número superior à soma de toda a população de São Paulo com a da Grande Porto Alegre.
Marçal engaja porque desperta amor e ódio, não podemos negar. Tem quem o ame por suas ideias e energia, mas também porque se sente vingado pelo estrago que causa ao “sistema”, como ele define o modelo atual de funcionamento da política brasileira. Para o outro grupo, ele não passa de um sujeito desonesto e perigoso, com ambições para 2026. Mas, meu objetivo não é analisar o candidato e, sim, como nós, eleitores, vamos aprender a navegar e tomar decisões neste ambiente tão cheio de ruído, acusações e baixarias.
“É hora de olharmos com mais objetividade para esse contexto e buscar os instrumentos que nos ajudem a compreendê-lo.”
É fato que a tecnologia criou modelos de negócios com novas formas tanto de produzir e distribuir quanto de consumir informação. Boa parte do que acontece no universo online, de negócios e profissões legítimos a usos oportunistas, é uma novidade ainda desconhecida e mal digerida por grande parte da população e pelos políticos tradicionais. Mas é uma realidade incontestável e veio para ficar.
Isso coloca cada um de nós diante da responsabilidade de entender melhor seu impacto no nosso cotidiano e, neste momento, na política. Entre cortes de vídeos, lacração, memes, frases tiradas do contexto e deepfakes, cada vez mais políticos de diferentes partidos nos lançam à insegurança que vem do desconhecido. É hora de olharmos com mais objetividade para esse contexto e buscar os instrumentos que nos ajudem a compreendê-lo e a focar no que é importante para nós e para as nossas cidades.
É nesses momentos de incerteza, quando uma decisão nossa terá alto impacto na nossa vida e na sociedade, que o jornalismo profissional se fortalece. Não a simples opinião, a crítica engajada ou a troca de insultos, mas a reportagem verdadeira, baseada em fatos e dados, com apuração, checagem e aprofundamento, ágil e acessível, que nós, o público, realmente buscamos e merecemos.
Anik Suzuki, CEO da ANK Reputation e membro do Conselho Editorial da RBS
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- Artigo publicado originalmente em Zero Hora em 31 de agosto de 2024