O cuidado com a reputação corporativa é uma das principais motivações das empresas brasileiras para adotarem práticas ESG, aponta pesquisa da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) em parceria com a Humanizadas. As organizações estão aderindo à agenda porque buscam ter um impacto mais positivo em questões ambientais e sociais, disseram 78% deles; querem fortalecer a reputação no mercado, afirmaram 77%; e têm a intenção de fortalecer a relação com os stakeholders (63%).
Realizado com quase 700 executivos, sendo mais da metade da alta liderança das companhias, majoritariamente de grande e médio portes, que empregam, juntas, 500 mil pessoas e faturam R$ 756 bilhões, o estudo identifica ainda uma clara tendência de crescimento na adoção de práticas ESG. O Panorama ESG 2024 , divulgado esta semana, mostra que 71% das empresas já estão implementando iniciativas sustentáveis – uma grande evolução em relação ao ano passado, quando 47% declararam estar nessa condição.
Dos pilares da sigla, o social é a prioridade para 72% dos executivos consultados. Depois, vem a governança (68%), seguida do pilar ambiental (66%).
Desafios: mensurar indicadores e ter uma cultura forte de ESG
Os desafios, no entanto, ainda são grandes. O relatório aponta que 40% dos consultados reportam dificuldades na mensuração de indicadores ESG. Além disso, a construção de uma cultura organizacional sólida é um obstáculo para 32%. Também são desafios notáveis a falta de recursos financeiros (30%) e de metodologia adequada (30%) e a ausência de uma visão estratégica (26%), entre outros (veja quadro abaixo):
Principais desafios da agenda ESG | |
Dificuldade de mensurar indicadores ESG 40% | |
Ausência de uma cultura forte de ESG 32% | |
Falta de recursos financeiros 30% | |
Falta de metodologia adequada 30% | |
Ausência de uma visão estratégica 26% | |
Alta complexidade das regulamentações 25% | |
Ausência de parcerias estratégicas 23% | |
Dificuldade de comunicação da agenda 22% | |
Falta de conhecimento interno 22% | |
Liderança não comprometida 14% | |
Para 77% dos executivos participantes, a agenda ESG deve ser uma responsabilidade de CEOs, presidentes e VPs. Eles acreditam, porém, que o governo também deve liderar esse processo, conforme 67% dos entrevistados. De acordo com o relatório, o governo deve criar incentivos para pesquisa e desenvolvimento em sustentabilidade ambiental e priorizar a transição energética. Eles também destacaram a necessidade de facilitar o financiamento sustentável, entre outras questões.
Segundo o relatório, os resultados sugerem a urgência de integrar a sustentabilidade de forma mais profunda nas estratégias empresariais. Isso inclui a necessidade de desenvolver lideranças capacitadas, implementar políticas de governança transparentes e alinhar investimentos e avaliações de fornecedores com critérios ESG.
“A expansão na adoção de práticas sustentáveis é uma ótima notícia, refletindo o início da integração significativa da agenda ESG aos negócios. Há um amplo espaço para melhoria e a evolução, as inovações e as políticas públicas direcionadas ao tema continuam sendo essenciais para aprofundar nosso compromisso e expandir a eficácia das práticas ESG no mercado.”
Abrão Neto, CEO da Amcham
Como acelerar a agenda ESG
A pesquisa também questiona os executivos sobre como é possível acelerar a agenda ESG. De acordo com os resultados, a capacitação e o desenvolvimento da liderança e colaboradores (56%); considerar a sustentabilidade como estratégia de negócio (48%) e ter um orçamento dedicado para o investimento em iniciativas ESG (47%) são fatores críticos para o avanço e o sucesso da agenda.
Um dos maiores especialistas do tema, o consultor e professor britânico John Elkington destacou a importância da adoção e da manutenção das práticas ESG como instrumentos para a reputação e a estratégia das empresas em entrevista ao Reputation Feed, no final de março. “É verdade que muitas empresas entendem que agenda ESG pode ter um impacto bom ou ruim na reputação. E, pelo menos inicialmente, tentam lidar com isso a partir das relações governamentais e das relações públicas”, disse. “Mas, se é aí que elas param, eu acho que é um completo e total erro. Antes, costumava ser sobre questões como o perfil da sua empresa, a forma como os stakeholders viam você e se os clientes eram leais. No entanto, estamos vendo que, cada vez mais, as agendas ESG e de sustentabilidade estão impulsionando mudanças estruturais nas empresas.”