Se errar, não fuja, não desapareça. Resolva! – Foto: Shutterstock
Gostei de assistir ao filme argentino Granizo, que conta a história (fictícia) do meteorologista popstar Miguel Flores, reconhecido como “infalível” por sua legião de fãs. Estudioso, carismático e vaidoso, ele anda pelas ruas recebendo os cumprimentos e os elogios de quem passa, tão seguro do que tem a dizer, que encerra suas previsões do tempo na TV com o bordão “eu garanto”.
Até que, um dia, justo na estreia do seu programa Show do Tempo na TV, a casa caiu. Miguel havia “garantido” que a noite seria de céu aberto e temperaturas amenas, mas uma chuva de granizo inesperada atingiu Buenos Aires, provocou danos à população desavisada e minou a reputação do homem do tempo. Miguel foi cancelado, perseguido e afastado do seu emprego.
É aqui que eu quero chegar: 20 anos de acertos, que deram ao profissional credibilidade e admiração, não são suficientes para que ele seja perdoado no seu primeiro deslize. Nem tampouco para evitar que ele, do dia pra noite, veja seu mundo ruir.
Parece injusto? Sim. Acontece fora da ficção? O tempo todo. Então, o que podemos fazer para evitar ou para se preparar melhor quando, ou se, isso ocorrer conosco?
Em primeiro lugar, vamos entender corretamente essa crise pela qual Miguel Flores passa. Embora a repercussão negativa seja justificada pelo público em função das suas perdas, o que vemos atingir Miguel é mágoa, sentimento de traição e revolta.
Ou seja, não estamos falando de uma crise ocasionada por questões racionais (prejuízos), mas, sim, emocionais. É a quebra de confiança, tão presente nas crises de imagem e reputação, que gera a avalanche de críticas, o cancelamento e o desejo de vingança. Para piorar, as redes sociais potencializam o efeito manada: mesmo quem nada sofreu, não assistiu à previsão do tempo equivocada ou nem conhecia Miguel, passa a fazer parte do coro contra ele.
A verdade é que quanto maior for a admiração que você conquistar ao longo da sua jornada, maior será o risco de você trair a confiança do seu público, mesmo que não intencionalmente.
Algumas premissas básicas (e difíceis, muitas vezes) podem evitar ou minimizar o sinistro:
1. Não prometa nem garanta nada que você não possa de fato entregar.
2. Não subestime as consequências de eventuais descuidos, falhas ou erros
no seu dia a dia.
3. Cuidado com a vaidade, ela pode distorcer sua visão.
4. Se errar, não fuja, não se esconda, não desapareça em hipótese alguma. Assuma, peça desculpas, resolva (se for possível) e conte às pessoas o que você vai fazer para evitar que o erro volte a acontecer.
5. E, por fim, não se feche em si mesmo com arrogância. Escute, aprenda, devolva e agradeça.
Aliás, sobre arrogância: não é raro acontecer como um efeito colateral de uma reputação cinco estrelas. Você se acostuma com os elogios, com as vitórias, com o reconhecimento. Acha que o jogo está ganho, entra no piloto automático, se distrai, demora demais para perceber a tempestade se aproximando. Cuidado! Manter-se no topo é muito mais desafiador do que chegar lá.
O filme é simples, caricato e despretensioso, uma boa opção para relaxar, mas faz pensar e deixa aprendizados até os últimos minutos. Miguel, depois de tanto desprezo, ganha uma segunda chance inesperada e bastante arriscada. Está numa encruzilhada (que dura segundos e pode passar despercebida) e precisa decidir se vai em frente ou não.
Não vou dar spoilers, mas deixo minha leitura sobre a mensagem final: quando você coloca o interesse do seu público realmente em primeiro lugar, quando escuta e dá crédito para o outro, quando trabalha em equipe e por um verdadeiro propósito, as chances de conquistar o coração das pessoas e construir legado de longo prazo são muito maiores e mais consistentes. E, agora, eu pergunto: como essa chuva de granizo pode inspirar a sua vida.
Anik Suzuki é CEO da ANK Reputation
anik@ankreputation.com.br
*Artigo publicado na HSM Management em 27 de maio de 2022