Jorge Gerdau: as oportunidades não têm limite no Brasil, o que falta é a equação política para potencializá-las

Empresário lança livro com valores que nortearam sua trajetória e construíram sua reputação

Núria Saldanha

“O tema reputação é importante em todos os níveis”, diz Jorge Gerdau – Fotos: Jardiel Carvalho

Jorge Gerdau Johannpeter, um dos mais influentes líderes empresariais do país, volta a conversar com o Reputation Feed. Desta vez, sobre A Busca, o seu primeiro livro, obra em que reúne os valores essenciais que nortearam a sua trajetória e está em período de lançamento em várias capitais.

“A palavra respeito para mim é uma palavra-chave porque vem da menor atitude até sobre aspectos coletivos”, conta sobre um dos valores que menciona no livro, resenhado pelo Reputation Feed.

Sempre atuante no debate sobre as questões fundamentais do país, o empresário também fala sobre os cenários econômico e político, a necessidade de aumentar o investimento e a poupança, além da falta de um pensamento estratégico de longo prazo no país.

E, claro, ele também trata sobre reputação, excelência, eficiência e legado.

Acompanhe, a seguir, os principais trechos da entrevista, que ele concedeu na sede da Gerdau, em São Paulo.

Por que a decisão de escrever um livro, como a ideia surgiu?

Eu estava com esse tema na cabeça há muito tempo. Muitos empresários fazem um livro para relatar a sua carreira, a sua vida, mas isso não estava me motivando. Eu pensei: se eu fizer, vai ser no sentido de consolidar os conceitos de valores e princípios que têm como lastro estrutural a filosofia da família e da empresa. Mas como eu atuei muito em relações institucionais e várias entidades, mencionadas no livro, resolvi escrever procurando ressaltar essa visão filosófica, não tanto só sobre a visão empresarial, mas, principalmente, sobre o aspecto social.

E o que esse livro acrescenta à sua jornada?

Trabalhei praticamente três anos no livro e tive como parceiro o Tulio Milman, em quem eu reconhecia uma competência de análise crítica sem ser agressiva. Esse é um aspecto complexo, principalmente para empresários. Nós trabalhamos no livro relatando e analisando os fatores motivacionais ou conceituais (nos quais acredita, basearam sua trajetória e fundamentam o livro).

Desde jovem, pela educação familiar que tive, pratiquei muito esporte e me dediquei principalmente ao hipismo, que meus pais também já praticavam. Em diversas frentes, sempre procurei um patamar máximo de eficiência. Também me envolvi muito em projetos como a Fundação Iberê Camargo, o Hospital Moinhos de Vento, que hoje é o segundo melhor hospital do Brasil. Eu tenho que buscar a excelência, mas ela sempre tem que manter uma dimensão humana. Ela não pode ser uma excelência fanaticamente orientada para aspectos materiais. Com isso, surgiu também a palavra busca. Então, foi o modo no qual trabalhei e construí o livro todo, com essa orientação nas diversas frentes de trabalho, no campo de realizações.

O senhor vê as empresas trabalhando reputação como um ativo?
Qual é a maturidade do setor empresarial em relação a esse tema?

O tema reputação é importante em todos os níveis, do indivíduo para a família, para o município etc. Você quase pode dizer que, automaticamente, ocorre o reconhecimento quando uma administração ou uma operação são corretas, bem-feitas. O melhor comportamento e a melhor condução resultam em benefícios econômicos e sociais.

E como o setor empresarial no Brasil olha para esse tema, da reputação enquanto ativo, na sua avaliação?

Acho que está cheio de empresas com padrões internacionais. A cotação das empresas, em bolsa ou não, espelha essa qualidade de trabalho. Há um benefício enorme em fazer as coisas bem-feitas. A estrutura existe. O problema, muitas vezes, não se potencializa ao máximo por uma questão de organização política ou social.

O senhor menciona no livro que vivemos no melhor país do mundo, inclusive ressaltando a força do agro, mas também afirma que falta competência profissional de governança. Como resolver isso para não só saber que o Brasil é o melhor país do mundo, mas sentir isso no dia a dia?

O tema, conceitualmente, é evidente. Em qualquer campo de atividade, é necessário olhar para os melhores países do mundo, os benchmarks, e ver quais são os melhores patamares. Olhar onde estou, onde eu tenho que chegar. O sistema político do Brasil todo se movimenta praticamente com raciocínio de curto prazo, poucas coisas são estabelecidas com o objetivo de política de médio e longo prazos. No setor privado, as empresas de maior sucesso têm planejamentos de médio e longo prazos orientando as atividades e investimentos. É necessário participação política para ter avanços políticos, certo? Se as questões não forem debatidas estrategicamente entre empresário, Congresso e Poder Executivo, não se resolve.

Quais vão ser, na sua avaliação, os maiores desafios para o Brasil em 2025?

Nós estamos vivendo um momento de debate complexo entre a visão política e a capacidade econômica real do país. Esse debate existe na esfera política e com riscos sobre toda a atividade econômica porque a carga tributária não suporta o índice de gastos. Há o debate de aumento ou não de impostos, e o Brasil já tem uma carga tributária bastante elevada e um sistema tributário atrasado. Se não houver harmonização do ajuste, existe risco de crescimento de inflação. No momento, esse desequilíbrio preocupa. É um tema macroeconômico extremamente importante que depende dessa condução política. A insegurança não é boa em termos de grandes projetos que têm que ser feitos.

“O Brasil deve perseguir a meta de atingir uma renda per capita acima de US$ 20 mil para ter uma estrutura social satisfatória.

O nosso investimento global sobre o PIB é entre 15% e 17%. E, com isso, a renda per capita fica estagnada, porque o crescimento econômico é um pouco menor do que o populacional.”

Como é que a gente resolve isso?

Com índice de poupança e investimento. Isso é um debate em que as forças econômicas e políticas têm que fazer e estabelecer claramente como propósito. Esse debate não existe satisfatoriamente.

E que oportunidades o senhor enxerga para 2025? Qual a sua perspectiva de que a gente possa aproveitar essas oportunidades?

As oportunidades não têm limite num país em construção como é o Brasil. Oportunidade não falta, é preciso fazer a equação política, se ajustar para potencializar essas oportunidades no campo político, social, educacional, econômico. Para isso, eficiência de educação e poupança e investimento são absolutamente prioritários. A oportunidade geral existe. Então, seja na infraestrutura, na educação, na saúde, todos estão exigindo mais investimento, mais avanços, em qualquer campo de atividade, é difícil não ver chances de aumentar a atividade.

Qual é o seu legado para o Brasil?

Eu trabalho quase dia e noite nesse projeto do Movimento Brasil Competitivo (MBC) que trata essencialmente de melhorias de tecnologia de gestão, voltado a esse objetivo de baixar o custo e melhorar a capacidade de eficiência das atividades executivas dos governos. Isso se reflete na vida empresarial. E também com outras instituições educacionais e sociais. A preocupação é ser útil e que essas atividades das quais participo e me envolvo possam ter utilidade em desenvolvimento global. Ser útil.

Programação de lançamento de A Busca

São Paulo

6/12
Instituto Tomie Ohtake
Rua Coropé, 88
Horário: 18h às 21h

Brasília

10/12
CNI
SBN Quadra 1 – Bloco C
Ed. Roberto Simonsen
Horário: 18h às 21h

Belo Horizonte

12/12
Museu das Minas e do Metal Gerdau
Praça da Liberdade, 680
Horário: 18h às 21h

Núria Saldanha é jornalista e consultora da ANK Reputation
nuria.saldanha@ankreputation.com.br

. Leia também a síntese produzida pelo Reputation Feed sobre os ensinamentos para os líderes reunidos no livro A Busca.


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