Tudo começa com respeito, escreve Jorge Gerdau Johannpeter em seu livro A Busca, um texto inspirador, com ensinamentos baseados na simplicidade e focados em valores essenciais para quem lidera ou quer chegar lá – na família, numa empresa, na sociedade. Não é uma biografia, como também está explicado já de início, embora aborde momentos relevantes da jornada de um dos líderes empresariais mais influentes do Brasil.
Jorge Gerdau, que tem sua trajetória associada à racionalidade do aço, transpôs para o meio corporativo – e para seu primeiro livro – ensinamentos dos esportes, tradição cultuada pelos quatro irmãos controladores da Gerdau e descendentes. Há muitas analogias com o surfe, esporte em que foi um dos precursores, e com o hipismo, em que a família Gerdau Johannpeter busca, como no título do livro, a mesma excelência perseguida pela empresa, baseada em valores sólidos. Por isso, escolheu posar na capa com uma prancha de surf de madeirite, usada na juventude.
Já no início, o autor deixa claro que não quer ser pretensioso, preocupação que mantém ao longo do texto. E justifica com humildade, inaugurando os muitos ensinamentos indispensáveis para líderes: “Quem se acha gênio ou superior perde a capacidade de aprender”. Se alguém não tem a humildade para ouvir, alega, não saberá o que dizer: “Quando vejo pessoas que alcançam algum resultado e começam a ter indicativos de falta de humildade, meu sentimento é de pena: eles definiram seu teto.”
Respeito e amor
São muitos ensinamentos por todas as 176 páginas, baseados em valores familiares, principalmente os do pai, Curt Johannpeter, e os da mãe, Helda Gerdau, levados para a empresa. Ao final, tudo é sintetizado em 23 palavras, que começam com “Respeito” e terminam com “Amor”. “Respeito, no fundo, pressupõe a consciência da importância de cada indivíduo e o exercício de nossos limites éticos, morais e legais”, explica. “E amor é o que dá a dimensão das nossas atitudes.”
Respeito, na visão do autor, é um valor intimamente associado à educação, uma de suas bandeiras como líder, junto com Qualidade Total, defesa das liberdades e causas que vão da saúde às artes, além dos esportes. “Respeito e transparência são definidores do estágio de desenvolvimento educativo e cultural de uma nação”, defende.
Quanto mais simples a posição do colaborador, escreve, mais ele deve ser tratado com atitude e respeito. “Não é apenas o que eu faço ou digo, mas como isso será percebido em um mundo em que a hierarquia e os símbolos do poder, gostemos ou não, ainda fazem muita diferença.”
Valores para perpetuar o legado
Com a morte do patriarca Curt Johannpeter, em 1983, Jorge e os irmãos decidiram listar os valores do conglomerado, iniciativa pouco comum na época, formalizadas três anos depois – a maioria, inspirada nos princípios e conceitos da família. “Consideramos que expressá-los claramente ajudaria a perpetuar o legado de nossos pais, avós e bisavós.”
Princípios que norteiam a busca
- Respeito
- Austeridade
- Busca
- Comunidade
- Educação
- Espiritualidade
- Excelência
- Família
- Fé
- Futuro
- Governança
- Generosidade
- Humildade
- Liberdade
- Pessoas
- Plenitude
- Propósito
- Resultados
- Saúde
- Simplicidade
- Sustentabilidade
- Transparência
- Amor
A Gerdau era a famíla, e a família era a Gerdau, pelo propósito, valores e entusiasmo com que vivíamos essa experiência, diz Jorge Gerdau, que começou a trabalhar aos 16 anos na fábrica de pregos adquirida pelo bisavô João Gerdau em 1901. “Difícil definir, na minha vida, o que é empresa e o que é família, já que os alicerces e as vigas de sustentação são os mesmos e, por isso, inseparáveis.”
Gestão de pessoas é determinante
“A Gerdau cresceu, de verdade, com a participação dos nossos colaboradores, dos mais variados níveis. Isso significou envolvimento e engajamento.”
“Pessoas só trabalham bem e em equipe quando há respeito.”
O autor faz uma defesa enfática da sustentabilidade, com foco justamente nas pessoas: “Cada vez mais, derrubam-se as barreiras entre o ser humano e a natureza. Tudo é uma coisa só e interdependente”. A sustentabilidade econômica é a base, o pilar das demais áreas – e, ao citá-las, amplia os conceitos habitualmente traduzidos pelo acrônimo ESG, incluindo as dimensões cultural e política. Sozinha, a sustentabilidade econômica perde totalmente o propósito, alerta.
A busca de resultados imediatos, sem um propósito maior, não se justifica, na avaliação do autor, um dos acionistas controladores da Gerdau. “Passamos a acreditar que o dinheiro é um fim. Não é. Dinheiro sempre foi e sempre deverá ser um meio para o desenvolvimento econômico e social.”
O empresário faz questão de expressar a sua visão sobre inclusão: “Incluir significa gerar mais renda, mais consumo, mais impostos, mais dignidade, mais felicidade do indivíduo e mais desenvolvimento coletivo. Isso não é comunismo nem liberalismo: é bom senso.”
O aprendizado no diálogo com o mar
Nem os valores, nem sua aplicação prática fazem sentido sem um propósito claro, na concepção do autor, que compartilha a busca permanente da excelência com as atividades da esposa Maria Elena, referência pela eficiência que imprimiu na ONG Parceiros Voluntários. “A palavra propósito, para mim, é uma das que orientam minha trajetória pessoal, quer seja na vida familiar, social ou profissional, mas também quando penso no meu próximo, na sociedade mais ampla.”
Ao refletir sobre o tema, o líder empresarial busca como inspiração o mar e o surfe de sua juventude, no Rio de Janeiro, onde nasceu, há quase 88 anos, e em Torres, onde veraneava com a família. O surfe, explica, nos faz nadar contra a corrente e contra a força das ondas que, mais tarde, nos impulsionarão para a frente, de volta para a praia: “O mar tem certa regularidade nos seus movimentos. Por outro lado, cada onda é diferente. São lições e vivências totalmente aplicáveis à vida”.
Jorge Gerdau relata que recorre sempre a essas lições em mesas de reuniões e em negociações complexas, e compartilha no livro insights como esses:
- ”Agilidade, capacidade de adaptação e coragem para decidir: assim se encaram as grandes ondas”.
- “Quem surfa, aprende a dialogar e, assim, a entender o mar”.
- “Cair faz parte. Saber levantar, também. É nessas horas que o diálogo com o mar se transforma em uma pergunta que precisa de resposta imediata. E certa”.
- ”É interessante pensar como a mesma energia pode ser um problema ou uma solução, dependendo de como nos posicionamos em relação a ela”.
- “O diálogo com o mar é uma forma incomparável de aprendizado”.
Em tempos de polarização dentro e fora das empresas, Jorge Gerdau lamenta que a radicalização do ambiente político e o exercício personalista do poder imponham certo constrangimento aos empresários. O líder empresarial confessa pensar de forma plural e entende que ninguém deveria ter medo de dizer o que pensa, seja para a direita, seja para o centro ou a esquerda. “Podemos não gostar ou não concordar com a linha de ação ou de pensamento de um governante, mas temos, sempre, o dever de construir o melhor, movidos não por vaidade ou interesse pessoal, mas por coerência.”
Também nesse caso, a premissa é o respeito.
O pensamento do líder
Alguns pontos de vista de Jorge Gerdau no livro A Busca:
“Quando o assunto é liderança, a força do exemplo é única e insubstituível.”
“Costumo dizer que a nota máxima possível para qualquer projeto ou realização é nove.
Dez é o que farei melhor, amanhã.”“Obstáculos fazem parte das trajetórias vencedoras.”
“Perder, em uma competição esportiva, quase nunca é um ponto final, mas sim uma etapa na busca pela excelência.”
“Aprendi que existe um tempo certo para ousar e que precisamos de treinamento e maturidade para enfrentar determinados desafios.”
“Não é a linha de chegada que faz melhorar o desenvolvimento humano, econômico, social e político de uma comunidade.
É a busca.”
Agende-se
Próximos eventos de lançamento de A Busca:
São Paulo
6/12
Instituto Tomie Ohtake
Rua Coropé, 88
Horário: 18h às 21h
Brasília
10/12
CNI
SBN Quadra 1 – Bloco C
Ed. Roberto Simonsen
Horário: 18h às 21h
Belo Horizonte
12/12
Museu das Minas e do Metal Gerdau
Praça da Liberdade, 680
Horário: 18h às 21h
A Busca: Os aprendizados de uma jornada de inquietações e realizações
Jorge Gerdau
Citadel, 176 p.
R$62,90
Disponível também online, na Amazon
Clóvis Malta é jornalista
clovis.malta@ankreputation.com.br