A força dos valores para a perenidade de uma empresa, na visão de Jorge Gerdau

Empresário trata de sua busca por excelência em livro inspirador para quem é líder ou pretende chegar lá

Clóvis Malta

Jorge Gerdau, na sede do grupo em São Paulo, uma das quatro capitais de lançamento de seu livro – Foto: Jardiel Carvalho

Respeito e amor

Respeito, na visão do autor, é um valor intimamente associado à educação, uma de suas bandeiras como líder, junto com Qualidade Total, defesa das liberdades e causas que vão da saúde às artes, além dos esportes. “Respeito e transparência são definidores do estágio de desenvolvimento educativo e cultural de uma nação”, defende.  

Quanto mais simples a posição do colaborador, escreve, mais ele deve ser tratado com atitude e respeito. “Não é apenas o que eu faço ou digo, mas como isso será percebido em um mundo em que a hierarquia e os símbolos do poder, gostemos ou não, ainda fazem muita diferença.”

Valores para perpetuar o legado

Com a morte do patriarca Curt Johannpeter, em 1983, Jorge e os irmãos decidiram listar os valores do conglomerado, iniciativa pouco comum na época, formalizadas três anos depois – a maioria, inspirada nos princípios e conceitos da família. “Consideramos que expressá-los claramente ajudaria a perpetuar o legado de nossos pais, avós e bisavós.”

Princípios que norteiam a busca

  1. Respeito
  2. Austeridade
  3. Busca
  4. Comunidade
  5. Educação
  6. Espiritualidade
  7. Excelência
  8. Família
  9. Futuro
  10. Governança
  11. Generosidade
  12. Humildade
  13. Liberdade
  14. Pessoas
  15. Plenitude
  16. Propósito
  17. Resultados
  18. Saúde
  19. Simplicidade
  20. Sustentabilidade
  21. Transparência
  22. Amor

A Gerdau era a famíla, e a família era a Gerdau, pelo propósito, valores e entusiasmo com que vivíamos essa experiência, diz Jorge Gerdau, que começou a trabalhar aos 16 anos na fábrica de pregos adquirida pelo bisavô João Gerdau em 1901. “Difícil definir, na minha vida, o que é empresa e o que é família, já que os alicerces e as vigas de sustentação são os mesmos e, por isso, inseparáveis.”

Gestão de pessoas é determinante

O autor faz uma defesa enfática da sustentabilidade, com foco justamente nas pessoas: “Cada vez mais, derrubam-se as barreiras entre o ser humano e a natureza. Tudo é uma coisa só e interdependente”.  A sustentabilidade econômica é a base, o pilar das demais áreas – e, ao citá-las, amplia os conceitos habitualmente traduzidos pelo acrônimo ESG, incluindo as dimensões cultural e política. Sozinha, a sustentabilidade econômica perde totalmente o propósito, alerta.

A busca de resultados imediatos, sem um propósito maior, não se justifica, na avaliação do autor, um dos acionistas controladores da Gerdau. “Passamos a acreditar que o dinheiro é um fim. Não é. Dinheiro sempre foi e sempre deverá ser um meio para o desenvolvimento econômico e social.”

O empresário faz questão de expressar a sua visão sobre inclusão: “Incluir significa gerar mais renda, mais consumo, mais impostos, mais dignidade, mais felicidade do indivíduo e mais desenvolvimento coletivo. Isso não é comunismo nem liberalismo: é bom senso.”

O aprendizado no diálogo com o mar

Nem os valores, nem sua aplicação prática fazem sentido sem um propósito claro, na concepção do autor, que compartilha a busca permanente da excelência com as atividades da esposa Maria Elena, referência pela eficiência que imprimiu na ONG Parceiros Voluntários. “A palavra propósito, para mim, é uma das que orientam minha trajetória pessoal, quer seja na vida familiar, social ou profissional, mas também quando penso no meu próximo, na sociedade mais ampla.”

Ao refletir sobre o tema, o líder empresarial busca como inspiração o mar e o surfe de sua juventude, no Rio de Janeiro, onde nasceu, há quase 88 anos, e em Torres, onde veraneava com a família. O surfe, explica, nos faz nadar contra a corrente e contra a força das ondas que, mais tarde, nos impulsionarão para a frente, de volta para a praia: “O mar tem certa regularidade nos seus movimentos. Por outro lado, cada onda é diferente. São lições e vivências totalmente aplicáveis à vida”.

Jorge Gerdau relata que recorre sempre a essas lições em mesas de reuniões e em negociações complexas, e compartilha no livro insights como esses:

  • ”Agilidade, capacidade de adaptação e coragem para decidir: assim se encaram as grandes ondas”.
  • “Quem surfa, aprende a dialogar e, assim, a entender o mar”.
  • “Cair faz parte. Saber levantar, também. É nessas horas que o diálogo com o mar se transforma em uma pergunta que precisa de resposta imediata. E certa”.
  • ”É interessante pensar como a mesma energia pode ser um problema ou uma solução, dependendo de como nos posicionamos em relação a ela”.
  • “O diálogo com o mar é uma forma incomparável de aprendizado”.

Em tempos de polarização dentro e fora das empresas, Jorge Gerdau lamenta que a radicalização do ambiente político e o exercício personalista do poder imponham certo constrangimento aos empresários. O líder empresarial confessa pensar de forma plural e entende que ninguém deveria ter medo de dizer o que pensa, seja para a direita, seja para o centro ou a esquerda. “Podemos não gostar ou não concordar com a linha de ação ou de pensamento de um governante, mas temos, sempre, o dever de construir o melhor, movidos não por vaidade ou interesse pessoal, mas por coerência.”

Também nesse caso, a premissa é o respeito.

O pensamento do líder

Alguns pontos de vista de Jorge Gerdau no livro A Busca:

Clóvis Malta é jornalista
clovis.malta@ankreputation.com.br


ENQUETE

Na sua opinião, o uso excessivo do celular afeta a imagem e a reputação pessoal?

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS

Jorge Gerdau Johannpeter: “A reputação tem que ser trabalhada e tem que ter base para justificá-la”
Entrevista
7 MIN.

Jorge Gerdau Johannpeter: “A reputação tem que ser trabalhada e tem que ter base para justificá-la”

Entre os principais nomes da indústria brasileira, um dos acionistas controladores da Gerdau fala sobre a relação entre propósito, reputação e negócios bem-sucedidos

Christianne Schmitt

Leia mais
Vídeo: Intuição e disciplina dosam escrita de autobiografia
Board
4 MIN.

Vídeo: Intuição e disciplina dosam escrita de autobiografia

Nelson Sirotsky, publisher do Grupo RBS, empresa da qual é sócio e onde foi presidente por mais de 20 anos, conta a experiência de escrever o livro O Oitavo Dia

Clóvis Malta

Leia mais
COMENTÁRIO

Preencha o formulário abaixo para enviar seu comentário:

Confira a opinião de quem já leu este conteúdo:

(nenhum comentário)