
“A busca por mocinhos e vilões é inócua e serve apenas ao debate ideológico. Já passou da hora de o tema avançar. Mas não é só da imprensa a difícil missão de explicar o que está se passando no planeta e de proporcionar um debate produtivo. Nós, cidadãos, temos o dever de ampliar nosso repertório para sermos capazes de fazer uma leitura crítica e de nos posicionarmos com argumentos consistentes.”
Circularam no Brasil todo, há cerca de duas semanas, as imagens de passageiros no metrô de São Paulo subindo em muretas e se equilibrando sobre corrimões para se salvarem em meio à enxurrada.
Em entrevistas, a Defesa Civil de SP fez questão de ressaltar que este é um comportamento de autoproteção, comum em situações de caos, especialmente associadas a eventos climáticos extremos e que, cada dia mais, teremos que estar prontos para isso.
Ninguém melhor do que quem viveu maio de 2024 no Rio Grande do Sul para saber disso. Ou, quem sabe, os seis milhões de brasileiros que viveram cinco meses sob calor extremo no Brasil, também em 2024, segundo levantamento exclusivo do G1 divulgado há poucos dias, neste ano marcado como o mais quente da história da Terra.
É nesse contexto que vamos sediar a COP 30, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, marcada para novembro, em Belém, no Pará. Estão convidados a participar das discussões representantes de cerca de 200 países. Empresas terão espaços para expor suas iniciativas, especialistas apresentarão seus estudos, e o Brasil contará com uma vitrine para mostrar seu potencial sob um holofote gigante.
Informação, análise e conhecimento, neste cenário de urgências, também devem ser parte da estratégia de autoproteção. É esperado do jornalismo profissional que esteja de fato preparado para essa cobertura. Que não se distraia com os factoides, cortinas de fumaça, oportunismos e persiga o que realmente importa, com apuração, checagem e transparência com relação a todas as perspectivas que esse assunto exige. A busca por mocinhos e vilões é inócua e serve apenas ao debate ideológico. Já passou da hora de o tema avançar.
Mas não é só da imprensa a difícil missão de explicar o que está se passando no planeta e de proporcionar um debate produtivo. Nós, cidadãos, temos o dever de ampliar nosso repertório para sermos capazes de fazer uma leitura crítica e de nos posicionarmos com argumentos consistentes. Além disso, cada um deve agir naquilo que estiver ao seu alcance, especialmente no seu ambiente de trabalho, nas comunidades e fóruns dos quais faz parte. Isso se chama autorresponsabilidade. Ninguém mais pode fazer de conta que não está acontecendo nada.
Anik Suzuki é CEO da ANK Reputation e membro do Conselho Editorial da RBS
anik@ankreputation.com.br
* Artigo publicado originalmente em Zero Hora em 8 de fevereiro de 2025