“Os moradores recorreram ao jornalismo e a seus profissionais não apenas como canal com credibilidade para obterem informações confiáveis, mas também para serem representados. O jornalismo foi – e está sendo – parte da solução, seja como meio para o poder público chegar até os cidadãos e vice-versa, seja para dar alcance às demandas das pessoas.”
Acompanho jornalistas e comunicadores gaúchos em diferentes plataformas e observei que, com a cobertura das enchentes no Estado (Rio Grande do Sul), alguns deles multiplicaram em dezenas de milhares o número de seguidores e de engajamento nas redes sociais. Eles estavam nas comunidades cobrindo os impactos da tragédia e souberam usar bem as redes para complementar o trabalho jornalístico que estavam fazendo, mostrando bastidores e outros recortes dos acontecimentos, quase de forma ininterrupta.
Nos locais atingidos pelas chuvas, os moradores recorreram ao jornalismo e a seus profissionais não apenas como canal com credibilidade para obterem informações confiáveis, mas também para serem representados. Em vídeos, vi inúmeras pessoas abordando as equipes para sugerir pautas, fazer apelos às autoridades e a todos aqueles que desejavam ajudar, porque não estavam se sentindo ouvidas em suas necessidades ou estavam temerosas de serem preteridas no atendimento pelos poderes públicos.
A imprensa estimulou as doações, o trabalho voluntário e ainda ajudou nos direcionamentos sobre quais itens eram os mais demandados nos diferentes momentos. O jornalismo foi – e está sendo – parte da solução, seja como meio para o poder público chegar até os cidadãos e vice-versa, seja para dar alcance às demandas das pessoas.
Vi ainda um jornalismo empático, próximo das pessoas e, muito importante, sem os exageros e demagogias da exploração fácil de tamanha vulnerabilidade. E essa reação do público nas redes reforça para mim que o jornalismo de qualidade é sempre soberano e se potencializa pela complementariedade entre as diferentes plataformas. As mudanças tecnológicas, industriais, culturais e de comportamento têm impacto em como a informação circula, mas nenhuma sugere que podemos renunciar ao bom jornalismo. Quando um fato tem alto impacto nas nossas vidas, não é suficiente o vídeo compartilhado pelo amigo ou os comentários soltos, descontextualizados, que passam na nossa timeline.
Várias vezes ouvi do Nelson Sirotsky, Publisher da RBS, que o jornalismo cresce nos grandes momentos e essa frase nunca perde atualidade. Sempre que precisamos de credibilidade, agilidade e confiança é nos veículos e profissionais de imprensa que nos apoiamos. O que para mim reforça a ideia de que não há conflito ou canibalização entre plataformas, pelo contrário, há, sim, um enorme potencial de ganhos para todos.
Anik Suzuki é CEO da ANK Reputation e membro do Conselho Editorial da RBS
anik@ankreputation.com.br
Artigo publicado originalmente em Zero Hora em 23 de setembro de 2023