Existe uma consciência crescente em relação à gestão da cultura
Betania e Luisa Tanure lançam livro que propõe mudança urgente na gestão tradicional das empresas brasileiras
Clóvis Malta
Autoras do livro Além da Gestão Tradicional, lançado pela Qualitymark Editora, as consultoras Betania e Luisa Tanure comemoram: há um grupo cada vez maior de líderes corporativos atentos à importância da cultura organizacional. Falta avançar, mas a tendência é positiva.
Nesta entrevista, concedida ao Reputation Feed, Betania, uma das mais conhecidas profissionais da área de comportamento organizacional, gestão e liderança, e Luisa, mãe e filha, falam sobre o livro e tratam de gestão e de suas conexões com reputação.
Confira a seguir os principais trechos da conversa e uma resenha do livro.
Por que é preciso ir além da gestão tradicional, como defende o livro? Como a reputação corporativa pode ser fortalecida quando se adota uma abordagem mais ampla de gestão?
Betania– A reputação está relacionada ao que a empresa é e não ao que a empresa diz que é. A reputação está ligada aos valores da companhia, àquilo que ela de fato coloca em prática, ao seu propósito, que nós chamamos de razão de ser. A gestão que vai além do que a tradicional abarca, a razão de ser, é o que vai dar consistência, ao longo do tempo, para a reputação. Articula todos os elementos da gestão, todos os stakeholders, para que os resultados, que vão além dos financeiros, sejam admiráveis. Resultados admiráveis estão relacionados também à reputação.
Luisa– Ir além da gestão tradicional é ir além do tradicional, mas também do modismo. No livro, a gente articula uma forma de não se cair nessas armadilhas, tanto do tradicional quanto do modismo, que é tão perigoso quanto.
Como evitar que fusões e aquisições destruam valor, como alerta o livro?
Luisa– O primeiro ponto é ter muita clareza sobre o motivo de a fusão ou aquisição estar acontecendo. É para adquirir competência? Market share? A razão de adquirir a empresa muda a forma inclusive sobre como o processo é conduzido. Outro ponto é compreender se a organização adquirente tem as competências e a força do management necessárias para fazer a mudança. Quando a gente adquire uma organização está fazendo uma fusão entre as culturas e também entre as pessoas. É preciso entender a cultura daquela organização, a razão de ser, os valores, para saber o que pode ser aproveitado e o que precisa ser retirado.
De que forma os empresários brasileiros, no geral, lidam com a cultura organizacional, particularmente em momentos de crise? As estratégias de gestão cultural influenciam diretamente a percepção da empresa perante os stakeholders?
Betania– Com certeza. Existe uma consciência crescente dos empresários em relação à gestão da cultura. Se a gente olha o filme, é superpositivo, em que pese termos três grandes grupos. Um grupo de empresários superacredita na força da gestão da cultura, inclusive para gerar os resultados excepcionais e admiráveis. Mesmo em momentos de crise, essas pessoas continuam atentas e investindo. Outro grupo, às vezes fala só porque está na moda, mas não acredita muito. E tem o do meio, que acredita, mas que ainda não tem a convicção de dentro para fora. Então, na hora que tem uma crise, corta as iniciativas.
Luisa– E o perigo, no momento que cultura virou um assunto da moda, é que ela é tratada como uma superficialidade danosa. A cultura é profunda e precisa de tempo para poder ser ajustada, mudada, evoluída.
“Os empresários estão cada vez mais robustos e compreendendo essa interseção entre as competências objetivas, subjetivas e políticas. Não adianta você ter só coisas absolutamente objetivas em cima da mesa como estratégia empresarial. Se você não tem uma cultura adequada, a estratégia não é nem ao menos executada. A gente vê essa questão com muito otimismo, mas ainda há espaço para avanço.”
Qual a diferença entre racionalização e revitalização e o que vocês apontam como mais eficiente para o negócio?
Betania – O que é mais eficiente? É fazer os dois ao mesmo tempo, é o que a gente chama de gestão agridoce. A gestão de uma organização precisa ter um olho no curto prazo e outro no longo prazo. Quando a gente fala da gestão agridoce, é justamente a mescla entre essas duas coisas.
Betania e Luisa lançam livro Além da Gestão Tradicional, pela Qualitymark Editora – Foto: Divulgação
O que é a doença corporativa chamada no livro de “subdesempenho satisfatório”? Como isso afeta a empresa em relação aos stakeholders, especialmente em relação à confiança que têm na organização?
Luisa– Um exemplo simples ilustra o subdesempenho satisfatório: eu posso tirar 10 na minha prova de matemática e preciso de 6 pra passar de ano. Eu tiro 6,5 e passo de ano. Tenho resultados, só que aquém do meu potencial. O subdesempenho satisfatório é quando as pessoas não estão num estado ótimo de performance, tanto do ponto de vista individual, quanto coletivo e da equipe. É uma doença silenciosa porque, num curto prazo, continuo tendo resultados. Mas ela me faz não ir além.
Betania – O importante, também, é que as empresas de sucesso vão aos poucos ficando no que a gente chama de “no quentinho”, “confortável”. Para mudar esse ponteiro de lugar, é preciso que haja intervenção.
Os avanços tecnológicos e as transformações da sociedade são, por si só, uma alavanca para transpor a chamada gestão tradicional ou é preciso ir além?
Luisa–A inovação tecnológica, por si só, não faz as organizações irem além. Outro ponto é que, muitas vezes, a gente tende a olhar só o lado bom, quando, na verdade, a tecnologia e a inovação se sustentam porque tem um outro aspecto invisível aos olhos das pessoas que estão de fora. Há uma experimentação que está conectada à disciplina. Quando a gente está falando de trazer inovação, seja do ponto de vista da tecnologia, seja do ponto de vista de gestão, é preciso unir isso com o que de fato é valor para a organização, hoje e no futuro. E entender que a inovação viabiliza o futuro, mas tem um trabalho duro do outro lado, da disciplina, do accountability. É preciso unir essas duas coisas para, de fato, fazer o que gera valor para a organização. E aí, sim, a tecnologia e a inovação se tornam um meio para ir além.
Resenha
É preciso ir além do tradicional nas empresas, propõe Betania Tanure em novo livro escrito com a filha Luisa
Além da gestão tradicional é inspirado no estudo Estratégia e Gestão Empresarial, desenvolvido há duas décadas, numa parceria de Betania Tanure com o pesquisador indiano Sumantra Ghoshal, que atuou na London Business School.
Ao revisitarem teorias de gestão das últimas décadas, com suas implicações reputacionais, Betania e Luisa Tanure tratam de desafios e não se limitam à teoria. Ao longo das 308 páginas, reiteram que é possível ir além, com as evidências de cases inspiradores, em muitos dos quais atuaram para fazer acontecer.
O livro traz exemplos de empresas como o Itaú Unibanco, que evoluiu sem efetivamente viver uma crise financeira profunda, mesmo tendo enfrentado processos de gestão de mudança. Também cita a compra da Fibria pela Suzano entre as empresas de construção de valor, até por capturar traços culturais e práticas existentes.
A disposição para fazer comparações de benchmark, não com os medianos ou comparáveis, mas com os melhores, é a mentalidade necessária para obter melhoria radical de desempenho, apontam. Empresas de alto desempenho existem até em setores não atraentes ou em dificuldades. E a melhoria do desempenho é possível mesmo quando já se tem muito sucesso, afirmam.
Em uma economia competitiva, impulsionada pela lógica cruel dos mercados, a empresa que não mudar com rapidez suficiente pode – e vai – morrer. ‘É preciso ir além’ é a mensagem central do livro.
O livro lista ainda empresas que não se submetem a uma espécie de “subdesempenho satisfatório”. Além do Itaú Unibanco e WEG, Banco Central, Dexco, Embraer, Gerdau, Localiza, MRV, Natura, Porto, Suzano e Votorantim são citadas como paradigmas de organizações que atuam no país e compõem a abrangente categoria “Brasil corporativo”. “O que elas conseguem fazer, outras também conseguem. A realidade brasileira, com todos os seus desafios e as suas oportunidades, não resume o que há de especial sobre essas organizações.”
Nem sempre ocorre mudança de cultura organizacional
As organizações tradicionais perdem – e perderão – espaço, preveem as autoras. “Estamos no limiar de um modelo bastante diferente de gestão, no qual as mais tradicionais não encontrarão respostas satisfatórias, a menos que abandonem suas já conhecidas soluções e, mais do que isso, deixem de lado seus antigos pressupostos, suas antigas formas de compreender e solucionar problemas, sua maneira bem-sucedida em tempos passados de lidar com as pessoas, estejam elas em que posição estiverem, internas ou externas à organização.”
Quando a expansão se dá por meio de M&A, nem sempre ocorre alteração de cultura organizacional. O mais comum é que haja mudanças culturais. A questão da cultura organizacional é complexa porque implica identificar o que é essência, o que não pode ser mudado e precisa até ser reforçado, ou resgatado, e o que deve, ao mesmo tempo, ser retirado, ressignificado ou renovado, de modo a evoluir ou transformar a cultura com base nesses verbos iniciados pela letra “R”.
Se a organização perder sua essência perderá, ao longo do tempo, suas vantagens competitivas. Por isso, ir além da gestão tradicional também significa retirar, reforçar, e às vezes até resgatar, ressignificar e renovar a essência ao mesmo tempo. Valores são apontados como a pedra angular que lastreia a filosofia e a definição de essência, que distingue organizações entre si e explica por que algumas prosperam, enquanto tantas outras tropeçam e até são banidas do mercado. A grande mudança, avaliam as consultoras, é justamente gerar valor pra todos, valorizar as pessoas, e não os sistemas.
. Clóvis Malta é jornalista clovis.malta@ankreputation.com.br
Nelson Sirotsky, publisher do Grupo RBS, empresa da qual é sócio e onde foi presidente por mais de 20 anos, conta a experiência de escrever o livro O Oitavo Dia
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