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Reconhecido pela busca da eficiência e da excelência na gestão da iniciativa privada e do setor público, da competitividade das empresas e do desenvolvimento do país, Jorge Gerdau Johannpeter aponta a reputação como peça-chave de qualquer atividade empresarial. O empresário, um dos acionistas controladores da Gerdau, a maior produtora de aço do Brasil, com atuação em nove países, e história de 122 anos, tem muita história para contar.
Aos 86 anos, olhar atento, pensamento ágil e vivacidade mantém energia em tudo o que faz. Se entusiasma com projetos do Movimento Brasil Competitivo (MBC), no qual é presidente do Conselho Superior, conquistas no hipismo e com o programa que alçou o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, a um dos melhores do país. Em tudo há reputação, propósito e valores, temas desta conversa com o Reputation Feed, que também tratou sobre as perspectivas para o Brasil.
“Reputação se constrói com todos os stakeholders”, reforça.
Acompanhe, a seguir, os principais trechos desta entrevista exclusiva:
Qual a relevância da reputação e como ela deve ser tratada nas organizações?
Em qualquer tipo de atividade empresarial, a reputação é uma peça-chave. Com uma boa reputação você consegue conquistar a confiança do cliente, do fornecedor e, no nosso caso, que atuamos no mercado de capitais, dos acionistas. Concomitantemente à construção da reputação, as características e os valores da empresa devem ser exteriorizados para que o investidor, os clientes, os fornecedores e, principalmente, os empregados se identifiquem com a reputação e a visão da empresa.
Quais são os fatores-chave para construir reputação e ter uma história bem-sucedida?
Quando você tem clareza de propósito, fica fácil toda a organização atuar ou se movimentar dentro dessa visão. Por exemplo, com o propósito de dar prioridade absoluta ao cliente não adianta eu dizer, o cliente tem de sentir. Da mesma forma, no mercado de capitais. O acionista deve saber claramente o que nós fazemos, quais são os nossos valores, qual é a nossa ética, como é a nossa relação social, como nos conduzimos com o governo, com os nossos clientes e, principalmente, com a nossa equipe. Quando você tem propósitos claros, você consegue trabalhar com naturalidade. Não dá para trabalhar sem transparência.
“Eu sou a quarta geração da empresa. Passei pelos 100 anos da empresa; hoje estamos com mais de 120 anos. Conseguimos introduzir para dentro da empresa valores pessoais e comportamentais da família.”
O senhor poderia elencar alguns elementos de reputação que foram importantes para o seu sucesso pessoal ou para alavancar negócios?
O principal valor que nós temos na empresa é originário da filosofia comportamental do seu Curt e da dona Helda (pais de Jorge). Eu sou a quarta geração da empresa. Passei pelos 100 anos da empresa; hoje estamos com mais de 120 anos. Conseguimos introduzir para dentro da empresa valores pessoais e comportamentais da família. A empresa não deixa de ser quase uma grande família. Quando você é aquilo que você pratica, quando pratica os valores na sua vida pessoal, consegue praticar livremente dentro da empresa e faz com que isso passe a ser quase como um comportamento natural da organização.
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Quais foram os grandes aprendizados nesta linha de praticar o que se diz?
Você tem que orientar este comportamento para cada um dos públicos com os quais você se relaciona. Temos passagens interessantes para contar. Nos festejos de 100 anos, um cliente, havia 24 anos, me falou que nunca teve nada a reclamar dos produtos. E quando você ouve isso de um cliente, dá uma satisfação enorme. É resultado da preocupação de fazer bem-feito. Uma outra. Um executivo tinha completado 35 anos na empresa e ia se aposentar. O discurso dele me tocou muito. ‘Eu estou há 35 anos aqui e nunca tive um conflito sob o aspecto ético e de valores entre o que eu penso e o que a empresa pensa’, ele disse.
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Chama a atenção que, numa trajetória como a sua, que passou pela expansão da Gerdau pelo mundo e a liderança de grandes movimentos empresariais no país, o senhor cita dois casos elementares na gestão empresarial: a relação com o cliente e a relação com o colaborador. Isso deve servir como ensinamento?
É a política dos stakeholders. Você deve aprender na empresa a definir claramente como você quer que este stakeholder veja a sua empresa, veja a sua pessoa, o relacionamento com eles. Em relação aos acionistas, eu faço uma comunicação clara. Com os clientes, como é que é? Tenho uma frase bem singela: quem paga a festa é o cliente. Toda a atitude em relação ao bom atendimento e à satisfação do cliente é decisiva para a sobrevivência da empresa. Nada mais estamos fazendo do que tentar fazer bem aquilo que dá a sobrevivência à empresa. A questão com os empregados é mais ampla e complexa. É uma relação de 24 horas, a vida toda. Tem a ver com carreira, capacitação e as chances de a pessoa se desenvolver com a empresa. É importante na organização esse espírito de equipe. A atitude do meu porteiro, de como ele recebe as pessoas, de como ele se comporta nesta condição, é um espelho do que é a organização. Você chega numa portaria e já vê se essa pessoa está ou não integrada na empresa. É uma filosofia comportamental. Quando você recebe exemplos como nós recebemos do nosso pai, o seu Curt, isso se incorpora na empresa.
Como a reputação contribui para esse processo?
Reputação se constrói na relação da empresa com todos os stakeholders.
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E como o tema deve ser tratado pelos acionistas e membros do conselho?
Os membros principais do board normalmente são de carreira, não em todas as organizações, mas na Gerdau sim, e, nesse caso, seguem na mesma linha. Quando eu quero analisar uma empresa, eu olho os membros do board e faço uma pergunta: quantos board members conhecem o core business da organização? Se você não tiver a metade dos board members, ou pelo menos um terço de board members, que tenham na veia a vida da empresa e a sua filosofia, você vai ter dificuldade em ter um board que realmente pense numa estratégia correspondente às necessidades da empresa. O board traz competências externas, mas o sucesso de uma empresa está no índice de conhecimento do core business desta organização.
Estes primeiros meses do ano têm sido de alguma nebulosidade no Brasil. Esse cenário traz riscos à imagem e à reputação das empresas?
Em alemão, tem uma palavra que define a minha capacidade de comentar essa pergunta: uberfragt, que quer dizer estou sobre questionado, isso está acima da minha capacidade de responder. Eu aprendi de certo modo a não me desesperar sobre as coisas que acontecem. O Brasil é tão grande, tão generoso, tão tolerante, que todas as dificuldades, de um modo ou outro, o país vence e resolve. Já passamos por tudo que é revolução e processos políticos. O país, de uma forma ou outra, continua caminhando e avançando. O país, como um todo, tem que buscar quais são as melhores soluções para resolver os problemas, trabalhando em cima do entendimento de benchmark, ver quem são os melhores para buscar as melhores soluções. Isso tem faltado.
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“Considerando as relações com os diversos stakeholders, você tem que analisar se a sua reputação, em relação ao que você pratica e você busca, esteja suficientemente informada. Porque também não adianta você fazer tudo perfeito e ninguém saber.”
Para finalizar, o quanto a reputação pode contribuir para as empresas terem resultados bem-sucedidos?
O cuidado com a reputação tem de ser em dobro. A empresa que busca posições consolidadas no mercado tem que agir corretamente e tornar isso público. Esse tornar público tem de ser muito sutil e muito bem conduzido, porque há uma tendência de se criar uma imagem acima do que é ou não é. Por isso, é preciso apoio profissional. Considerando as relações com os diversos stakeholders, você tem que analisar se a sua reputação, em relação ao que você pratica e você busca, esteja suficientemente informada. Porque também não adianta você fazer tudo perfeito e ninguém saber. A reputação tem que ser trabalhada e tem que ter base para justificá-la.
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Christianne Schmitt é editora do Reputation Feed
christianne.schmitt@ankreputation.com.br
• Clique aqui para ler as entrevistas com:
Pedro Parente, cofundador e sócio da eB Capital
Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração da Magazine Luiza
Rogério Melzi, conselheiro de empresas