
Organizações que desejam construir reputações sólidas em um mercado em transformação terão de repensar seu modelo de liderança cada vez mais. As lideranças empresariais precisam evoluir de um modelo operacional para um perfil integrador e sistêmico, capaz de conectar estratégia, pessoas e propósito. O alerta está nos resultados da pesquisa Panorama Lideranças 2025, desenvolvida pela Amcham Brasil e pela Humanizadas.
O estudo sinaliza que o papel do líder é inspirar mudanças estruturantes e não mais apenas “fazer rodar”. Mostra que a transição do estilo atual, ainda muito associado a rotinas e metas pontuais, para um modelo de liderança estratégica marca uma mudança nas relações internas e externas das corporações. A capacidade de mobilizar equipes em contextos complexos tornou-se um critério estratégico para alcançar alta performance.

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Hoje, estar atento aos cenários globais significa tomar atitudes e decisões estratégicas a partir da compreensão que os modelos organizacionais, as carreiras e os cargos de liderança passam por uma transformação diária, diz a presidente da ABRH Brasil (Associação Brasileira de Recursos Humanos), Leyla Nascimento. “As hierarquias estão se horizontalizando, porque as organizações estão criando espaços de aprendizagem para entender o contexto e tomar as melhores decisões que as tornem e as mantenham atrativas no mercado”, complementa. Não há mais soluções estanques e que possam ser reproduzidas como duradouras, reforça Leyla, que também é CEO do Grupo Capacitare, do Rio de Janeiro.
. Leia mais sobre os desafios das lideranças na entrevista com a consultora Vicky Bloch
O novo papel do líder na reputação da empresa
A visão sistêmica contribui para as decisões mais acertadas diante do contexto em que a empresa está inserida, explica Leyla. Os líderes são os orientadores de suas equipes para agirem conforme as estratégias de mercado que a empresa poderá ou deverá adotar, complementa.
O domínio da IA, por exemplo, deixou de ser diferencial técnico e tornou-se base da performance estratégica, capaz de antecipar riscos, gerar insights e suportar decisões com impacto corporativo. Mas se a tecnologia traz os dados que possibilitam análises, ainda há dificuldades de entender que o momento é da “escolha” e tomada de decisão: “Com esse entendimento sobre as transformações, tornam-se imperativo o cuidado com as pessoas e o incentivo ao pensamento diverso que contribuirão para a performance competitiva e os melhores resultados”, acrescenta Leyla.
Os dados
O estudo ouviu 765 executivos de empresas médias e grandes do Brasil. Entre as 10 principais características mais votadas para a liderança ideal, a ambicionada no futuro, apenas duas permanecem no topo quando comparadas ao estilo atual – visão estratégica e decisão baseada em dados –, ambas com aumento de relevância.
Top 10 Características Liderança Atual | % Votos | Top 10 Características Liderança Ideal | % Votos |
Orientação para resultados | 49% | Foco em Alta performance | 63% |
Colaboração | 46% | Desenvolver equipe | 60% |
Melhoria de processos | 43% | Visão estratégica | 59% |
Abertura a feedback | 40% | Gestão de talentos | 59% |
Responsabilidade | 38% | Comunicação assertiva | 58% |
Visão estratégica | 37% | Inovação | 53% |
Aprendizado com os erros | 36% | Agilidade | 52% |
Produtividade | 36% | Inteligência emocional | 52% |
Decisão baseada em dados | 35% | Decisão baseada em dados | 51% |
Resiliência | 35% | Uso de Inteligência Artificial | 51% |
Hard e soft skills que definem o novo líder corporativo
Habilidades técnicas (hard skills) e comportamentais (soft skills) que serão essenciais para os líderes que buscam manter a relevância e proteger a reputação de suas organizações:
Top 5 Hard Skills para Desenvolver | Atual (A) | Ideal (I) | Gap (I – A) |
Foco em Alta performance | 27% | 63% | 36% |
Uso de Inteligência Artificial | 17% | 51% | 34% |
Inovação | 28% | 53% | 26% |
Gestão de mudanças | 25% | 48% | 22% |
Visão estratégica | 37% | 59% | 21% |
- Foco em alta performance: capacidade de sustentar resultados consistentes e contínuos.
- Uso de inteligência artificial: domínio da tecnologia para transformar dados em decisões estratégicas.
- Inovação e gestão de mudanças: agir com celeridade e criatividade em ambientes complexos e voláteis.
- Visão estratégica: conectar tendências externas e recursos internos, guiando a empresa para o futuro.
Soft skills mais desejadas
Top 5 Soft Skills para Desenvolver | Atual (A) | Ideal (I) | Gap (I – A) |
Comunicação assertiva | 18% | 58% | 40% |
Inteligência emocional | 17% | 52% | 36% |
Feedback contínuo | 17% | 44% | 28% |
Agilidade | 27% | 52% | 26% |
Escuta ativa | 21% | 44% | 23% |
- Comunicação assertiva: clareza e empatia nas relações, habilidade essencial para construir confiança interna e externa.
- Inteligência emocional: equilíbrio nas relações e na gestão de conflitos, base da liderança humana.
- Feedback contínuo e escuta ativa: criar canais abertos para a evolução constante das equipes.
- Agilidade: responder rapidamente a mudanças sem perder a direção estratégica.
Diante dessas transformações, combinar visão de longo prazo e uso estratégico de dados torna-se essencial. “Lideranças mais maduras constroem alta performance com consistência, conectando stakeholders, impulsionando inovação e valor de forma contínua – não apenas pontual”, conclui a pesquisa.
Clóvis Malta é jornalista
clovis.malta@ankreputation.com.br