Wimbledon, como ver o torneio de tênis para aprender sobre reputação

Com quase 150 anos, clássico campeonato disputado em Londres preserva imagem e caráter únicos apoiado na tradição, sem deixar de inovar

Por Christianne Schmitt

Plateia e o espanhol Carlos Alcaraz (em primeiro plano), vencedor de Wimbledon em 2024 – Foto: AELTC/Joel Marklund/Divulgação Wimbledon

O alarme do FOMO (sigla para Fear of missing out, a sensação de estar perdendo algo nas redes sociais e, no meu caso, na imprensa e na mídia em geral) desperta em mim a cada torneio de tênis de Wimbledon, que se inicia nesta segunda (30/6), em Londres. E, agora, com o cronômetro disparado, me pergunto por quê. É um esporte que sempre admirei por inspirar disciplina, estratégia, resiliência e força, mas mal conheço suas regras. Então, por que Wimbledon?

Talvez por reunir a elite do tênis mundial? Sim, mas os outros três Grand Slams (Aberto da Austrália, Roland Garros e US Open) também apresentam disputas entre os maiores. Por que consagrou jogadores como o suíço Roger Federer e a norte-americana Serena Williams? Nesse caso, Roland Garros faria o mesmo efeito, afinal, todos amamos Guga Kuerten, três vezes campeão no saibro francês – sem falar no espanhol Rafael Nadal com 14 títulos no mais charmoso torneio em Paris.

Certamente, porque o meu olhar vai muito além dos jogos e dos irresistíveis zooms na plateia para espiar o Royal Box, onde a patrona do torneio, a princesa de Gales Kate Middleton, e demais integrantes da realeza recebem convidados. Wimbledon, o mais clássico e antigo campeonato de tênis, que se iniciou em 1877, tem atributos reputacionais que impactam positivamente a sua credibilidade e a sua influência, que conquistam a confiança e estimulam o engajamento de seus públicos.

Um de seus grandes atributos é a quadra de grama. Desde 1988, Wimbledon é o único dos Grand Slams com jogos nesse tipo de quadra, que remonta ao início do esporte, provoca pouco atrito com a bola e, portanto, acelera a partida. Muitos a chamam de sagrada. O repertório sacro inclui todas as 19 quadras usadas no torneio, em especial a central, onde ocorrem as principais partidas. Para Rafael Nadal, é “catedral”. O tenista, especialista no saibro, superou Federer na grama de Wimbledon, na final de 2008, considerada uma das maiores decisões da história do torneio.  

Desde 1880, vitórias e derrotas acontecem em Wimbledon com tenistas vestidos de branco. A regra instituída para tentar diminuir o impacto visual do suor na vestimenta dos jogadores, considerado inadequado no século XIX, perdura até hoje, com uma pequena flexibilização. Só recentemente, em 2022, passou a ser permitido que as tenistas usem roupas de outra cor – desde que sob o uniforme branco. Por quê? Tudo comunica tradição, elegância.

Nenhum descuido com a imagem e o caráter únicos do torneio é estratégico para o All England Club, ou simplesmente The Club, que abriga e participa da organização do torneio. Os principais responsáveis pela realização do evento constroem e mantêm a reputação positiva do campeonato formando parcerias de longo prazo com marcas de primeira linha. Entre elas, estão Rolex, cronometrista oficial do campeonato, desde 1978, e Slazenger, fornecedora das bolas de tênis, desde 1902. A Polo Ralph Lauren, que equipa todos os árbitros de Wimbledon, é outro nome que compartilha o prestígio com o do campeonato.

E, nestes tempos em que a tecnologia pode contribuir para alargar o reconhecimento dos públicos, Wimbledon investe em vários projetos de inteligência artificial para aumentar o engajamento. Um deles, presente no campeonato de 2025, é o Match Chat, desenvolvido pela IBM. O assistente interativo de IA pode responder a perguntas dos fãs em tempo real durante partidas de simples ao vivo e na cobertura pós-jogo. As questões podem ser generalizadas, em prompt, ou específicas.  

Se, ao longo desses quase 150 anos, Wimbledon cultivou a sua reputação amparado na tradição, também não deixou de inovar. Construiu essa trajetória de maneira consciente, permanente e consistente. E, a cada ano, é capaz de aumentar o fascínio de fãs (e admiradores do esporte sem qualquer repertório) que enfrentam filas e pagam caro por seus disputados ingressos ou não perdem a transmissão de suas partidas. Estou entre eles.


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