Emily faz bem para Paris

Mudança de ambientação de série famosa do streaming, considerada positiva para imagem e reputação da cidade luz, causa disputa entre autoridades europeias

Por Mariana Mondini

Emily, interpretada pela atriz Lily Collins, muda-se para Roma na quarta temporada – Foto: Instagram/Oficial Emily in Paris

Sou fã da série Emily in Paris. Desde a primeira temporada, em 2020, fico ansiosa por novos episódios e os assisto quase que de uma só vez. Leve, divertido e “água com açúcar”, o roteiro não vai muito além disso, mas é um bom entretenimento para dar uma pausa à vida corrida.

O meu interesse (e o da maioria do público fiel) não está ligado às ações de marketing que a personagem principal Emily Cooper (interpretada pela atriz Lily Collins) cria – clichês e um tanto artificiais. Tem mais a ver com a estética dos atores, dos figurinos, dos cenários, da cidade. Emily in Paris é um convite a passeios pelas ruas da capital francesa e uma experiência imersiva no glamour e no romantismo da cidade.

Para mim, tem muito mais do que isso. A série diz e ensina muito sobre reputação. E eu já explico.

O sucesso global, exibido em 190 países pela Netflix, chegou a sua quarta temporada em 2024 rendendo dividendos não apenas para os envolvidos diretamente no projeto. Segundo o jornal The Guardian, estudo do Centro Nacional de Cinema e Animação (CNC) de França, realizado este ano, apontou que 38% dos turistas consultados mencionaram a série como sendo um dos motivos para visitar Paris.

Por isso, não à toa, o assunto saiu do streaming e foi parar na mesa de autoridades europeias porque, nos últimos episódios da recente temporada, a série se passa em Roma. E ao que tudo indica, deve migrar (temporariamente ou não – não há posicionamento claro dos produtores a respeito) para a capital italiana. O presidente francês, Emannuel Macron, não gostou e protestou. O prefeito de Roma, Roberto Gualtieri, revidou.

Emily in Paris em Roma não faz sentido, defendou Macron. “É muito positiva em termos de atratividade para o país. Para os nossos negócios, é uma iniciativa muito boa”. E ainda complementou dizendo que “o país lutará muito e pedirá para que a série permaneça em Paris”. Gualtieri aproveitou o mote do romance da personagem principal com um italiano e escreveu em sua conta no X, antigo Twitter: “Caro Emmanuel Macron, fique tranquilo: Emily está muito bem em Roma. Além disso, no coração não se manda: vamos deixá-la escolher”, escreveu em sua conta no X, antigo Twitter.

Agora é esperar para ver quem ganha.

Paris vem reforçando seu posto de destino turístico aos poucos. É uma das cinco cidades mais visitadas do mundo, tendo recebido 15,5 milhões de turistas em 2023, segundo dados da Euromonitor. Porém, teve sua imagem desgastada nos últimos anos por conta de recentes protestos e episódios de violência antes incomuns – até a própria série foi motivo de pichações de residentes mais revoltados que acreditam que a produção “romantiza demais o cotidiano parisiense”. 

Os Jogos Olímpicos de 2024 contribuíram para o apetite de novos visitantes, apesar de polêmicas (sempre elas) como a frustrada despoluição do Rio Sena. Então, Macron está certo em lutar. Emily faz muito bem para Paris, e a recíproca é verdadeira – e talvez possamos ver como será com Roma. A série valoriza a reputação da cidade. Tornou-se uma marca forte, que, temporada a temporada, agrega mais fãs e turistas. Perder o “posto” de cenário das aventuras da senhorita Cooper não é estratégico. Cuidar da imagem é um esforço legítimo na construção da reputação para empresas, pessoas e, por que não, cidades. Manter a Emily em Paris é très chic!



Mariana Mondini é jornalista e consultora da ANK Reputation


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