“Incidentes cibernéticos podem interromper operações empresariais, causar perda de clientes, prejudicar a reputação e gerar custos regulatórios significativos.”
Empresas privadas e órgãos do Estado que não nasceram digitais estão, inevitavelmente, em fase de digitalização e emprego de inovações. Esses processos são condicionantes para o desenvolvimento econômico e social no século 21.
Para que a revolução tecnológica seja ainda mais potente e melhore a vida das pessoas, é necessário construir confiança digital (digital trust), sustentada pelo tripé: segurança cibernética, proteção de dados pessoais e inteligência artificial ética e responsável.
Historicamente, as empresas investiam em compliance digital por preocupações com conformidade legal, segurança e incidentes cibernéticos, além do receio de sanções. No entanto, com a transformação digital e a maior conscientização dos indivíduos sobre seus direitos, as organizações estão começando a enxergar o compliance como impulsionador da inovação responsável:
- A governança legal de dados traz segurança jurídica para que áreas de negócios, como marketing, tecnologia e inovação, possam ter as áreas jurídica e de privacidade como fortes aliadas no desenvolvimento de soluções inovadoras, responsáveis e seguras;
- Se os dados são a moeda da economia digital e as empresas mais poderosas do mundo são aquelas que detêm a maior quantidade, variedade e capacidade de processamento de dados, o data ethics e a IA responsável são essenciais para que clientes confiem o uso de seus dados às organizações;
- A utilização de Inteligência Artificial de forma ética, segura e transparente, considerando aspectos como privacidade, igualdade, não discriminação e responsabilidade social, permite promover inovação sem comprometer direitos fundamentais, minimizando riscos e impactos negativos e respeitando a legislação vigente;
- A confiança digital (digital trust) se destaca como parte integrante da agenda ESG, ao lado de programas de integridade e anticorrupção, responsabilidade ambiental, inclusão, diversidade e bem-estar no trabalho;
- Incidentes cibernéticos podem interromper operações empresariais, causar perda de clientes, prejudicar a reputação e gerar custos regulatórios significativos, além de impactar negativamente o valor das ações. Nesse contexto, prevenção, segurança e capacidade de resposta são elementos essenciais para a sobrevivência e competitividade das empresas, figurando como agendas organizacionais e estratégicas;
- A proteção de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, é um direito e garantia fundamental, ao lado de liberdade de expressão, intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas. As organizações precisam entender a profundidade desse direito e inseri-lo em seus valores corporativos.
Entre agentes que se motivam a cumprir objetivos regulatórios por princípios e responsabilidade social e aqueles que o fazem por um cálculo econômico, o tratamento ético, seguro e responsável de dados é significativo para ambos sob a perspectiva de confiança do mercado, retorno sobre investimento e custo de eventuais infrações.
Devemos superar a fase do digital first e avançar para o digital trust. Segurança cibernética, proteção de dados pessoais e o uso ético e responsável da IA são fundamentais para a inovação empresarial responsável.
Rony Vainzof é sócio-fundador do VLK Advogados, Diretor da FIESP e Consultor em Proteção de Dados da Fecomercio/SP.
Os artigos assinados refletem a opinião dos autores.