“Manter uma reputação ilibada envolve esforço e engajamento coletivo permanentes. Não à toa, assistimos nos conselhos de administração aos apelos dos executivos para verbas adicionais voltadas a marketing, consultorias especializadas em reputação e marca empregadora. Mas há uma questão que ainda desperta debate subdimensionado em reuniões sobre orçamento e planos de negócios: como a liderança vem atuando para manter a boa reputação da empresa?”
A reputação de uma empresa começa a ser construída na sua fundação. Essa tarefa era atribuída quase exclusivamente aos acionistas e administradores, numa época em que os consumidores utilizavam somente qualidade e preço como critérios para as suas escolhas. Atualmente, a reputação de toda empresa é moldada de uma forma mais holística: via percepção de todos os seus stakeholders – não somente em relação aos produtos, mas especialmente na avaliação de marca e imagem, envolvendo critérios que transcendem questões de preço e qualidade.
A equação ficou mais complexa, com indagações das partes relacionadas, tais como: o que esta empresa tem feito para o bem de suas comunidades? Tem cuidado do nosso planeta? Como lida com os seus colaboradores? Oferece tratamento equânime a todos, coibindo atitudes preconceituosas em relação aos grupos minoritários e minorizados? Assegura não somente segurança física, mas também psicológica aos clientes e colaboradores?
Empresas com imagem reconhecidamente positiva buscam impregnar o ar que todos respiram com uma cultura organizacional aberta, humanizada, que valoriza o indivíduo, adota a agenda ESG e trata a todos com respeito. Manter uma reputação ilibada envolve esforço e engajamento coletivo permanentes. Não à toa, nós assistimos nos conselhos de administração aos apelos dos executivos para verbas adicionais voltadas a marketing, consultorias especializadas em reputação e marca empregadora, recursos importantes e que trazem resultados positivos.
Líderes com foco em atingir resultados através das pessoas gostam de aprender sempre (inclusive com seus subordinados). Nutrem compaixão pelo próximo, sabem ouvir, permitem que todos tenham opinião em sua equipe, constroem ambientes inclusivos e que ofereçam segurança psicológica. Profissionais assim são os mais desejados pelas organizações para comandar times. Eles têm o ferramental necessário – junto com competências comportamentais – para a construção e a manutenção de uma reputação empresarial ilibada e, consequentemente, de uma boa marca empregadora – ímã poderoso para a atração e manutenção de talentos.
Tenho presenciado, cada vez mais, casos de sucesso de mentorias para identificar e fortalecer o cardápio de competências humanas que moldam cada líder, conhecidas como soft skills. A primeira delas é o autoconhecimento, muitas vezes relegado ao segundo plano pelos executivos. Mentoria vai além de um projeto profissional. Acaba sendo um projeto para a vida toda. Desenhado sob medida, pode ser implementado não só por consultores externos, mas também por gestores experientes da própria organização, desde que sejam identificados, consultados sobre o interesse de participarem de programas voluntários voltados à mentoria interna e – sob a supervisão da área de pessoas – devidamente preparados para o desafio.
Essa é uma experiência que se transforma em algo enriquecedor para o mentor e mentorado, cujos resultados se refletem no crescimento pessoal. A elevação de performance acaba sendo consequência. O sucesso de um programa de mentoria é uma contribuição expressiva na construção e manutenção de reputações empresariais, que também ajuda a cultivar culturas empresariais humanizadas. Pode se transformar, ainda, em ativo intangível para a organização e toda a sua cadeia de stakeholders.
Ana Silvia Matte é conselheira de administração, membro externo de comitês temáticos e mentora de executivos
Os artigos assinados refletem a opinião dos autores.